segunda-feira, 15 de março de 2010

Agripino adota tom "paz e amor" e rasga elogios ao presidente Lula

Numa surpreendente mudança de tom, o senador José Agripino Maia (DEM) – um dos comandantes da tropa de oposição em Brasília – deu um tempo nas críticas e, pela primeira vez em mais de sete anos, elogiou publicamente a atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para o democrata, o petista “teve muito mais acertos que equívocos”, implantou uma série de programas (Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida) que melhoraram a vida dos mais pobres e distribuiu renda ao promover o aumento do salário mínimo.

É verdade que, apesar de admitir os êxitos do governo federal, Agripino não deixou de apontar o que considera defeitos da gestão petista: o governo mantém uma carga tributária “vergonhosa” e deixou a desejar em relação aos pleitos do Rio Grande do Norte. O senador classificou como “engodo” a implantação da Refinaria Clara Camarão em Guamaré. “Refinaria é o que está sendo feito em Recife e o que anunciam para o Maranhão. Nos tiraram isso”.

O novo estilo “morde e assopra” parece ser a estratégia encontrada pelo democrata para proteger-se da elevada popularidade do presidente Lula, que chega aos 80% de aprovação popular, índice aferido pelas últimas pesquisas divulgadas pela imprensa nacional. Agripino teme que, insistindo nas críticas mais pesadas, possa sofrer desgastes junto aos admiradores do petista e, o que seria ainda pior, termine derrotado nas próximas eleições.

Na opinião do senador, o presidente Lula não vai “insistir na tese” de destruí-lo politicamente, como prometera fazer quando participou da campanha de 2008 em Natal, “porque quando ele [Lula] ameaçou o resultado não foi bom”. Agripino disse que não teme a popularidade do petista, argumentando que “essa história de tutelar voto é coisa de coronel”.

Leia, a seguir, a íntegra da entrevista concedida pelo senador, na última sexta-feira, ao jornalista Diógenes Dantas, no Jornal 96, transmitido pela 96 FM de Natal:


Diógenes Dantas: Vamos começar sobre a pauta do Congresso Nacional. A Câmara dos Deputados aprovou os projetos que faltavam do Pré-Sal. O mais polêmico foi a partilha [dos royalties] por igual, que levou à insatisfação do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Como o senhor acompanhou isso?

José Agripino: É um fato novo a proposta do deputado Ibsen Pinheiro [PMDB-RS], que propõe uma mudança na distribuição dos royalties muito radical. Veja bem: o que é que tem que observar em primeiro lugar? Legalidade. Você tem que ver se a proposta é constitucional ou não. A Constituição diz claramente que você não pode criar legislação para prejudicar. O Estado do Rio de Janeiro está em pânico perde R$ 5 bilhões. O que é que significa isso? É como o Sérgio Cabral, governador [do RJ], está verbalizando. Despesas com aquilo que os royalties podiam pagar, que vinha sendo feito há anos, perdem o suprimento, não tem mais dinheiro para aquilo. Então se você pagava educação, saúde, transporte, se tinha obras em execução com dinheiro de royalties e, de repente, a legislação mudou para prejudicar, você fica impossibilitado de fazer o que vinha fazendo.

Diógenes Dantas: Para esclarecer, senador, esse projeto não é para exploração do Pré-Sal? Muda a partilha do petróleo que é produzido atualmente?

José Agripino: Muda. A distribuição dos royalties referentes ao petróleo extraído do mar. Ou seja, a bacia de Santos entra na conta. Se fosse uma legislação só para o Pré-Sal, não tinha o que discutir, não estaria prejudicando ninguém. É daqui pra frente. É uma riqueza do povo brasileiro que você tem que distribuir. Então, você tem que examinar a constitucionalidade da matéria, porque você não pode criar uma legislação – segundo diz a Constituição – para prejudicar. Depois, tem que ser visto o critério de direito. EU acho que distribuir a riqueza do Brasil, ou os royalties do Brasil, pelos Estados e, principalmente, pelos municípios é conveniente. Os municípios estão quebrados. Então qualquer renda que você distribuir é boa. Agora, desde que não tenha contestação judicial. Criar uma legislação para, em seguida, o Supremo [Tribunal Federal] derrubar não adianta. O Senado, que é uma Casa de diálogo, entendimento, aperfeiçoamento de propostas legislativas, vai examinar a constitucionalidade e vai examinar os direitos e a conveniência, a racionalidade para, em seguida, votar.

Diógenes Dantas: Numa primeira análise, o senhor que é um político experiente, como é que essa questão vai ser tratada no Senado?

José Agripino: Com racionalidade. No Rio Grande do Norte, por exemplo, 12 municípios perdem e 155 ganham. Então o que é preciso fazer? Quem é que tem a maior parte dos royalties? É a União. Quem é que pode abrir mão, porque tem muito? A União. Então, você pode perfeitamente trabalhar no sentido de garantir um ganho para os 155 no caso dos municípios, ou no caso dos Estados. O RN ganha ou perde? Eu tenho que avaliar, tenho que ter responsabilidade sobre ganhos do meu Estado. EU não fiz a conta ainda sobre se o RN ganha ou perde. A equação possível é garantir um ganho a quem não tem nada sem perdas para quem ganha alguma coisa. Como? Tirando da parte do “Leão”. Quem é que hoje não está passando por aflição maior? Quem é que hoje diz que tem dinheiro para investir no PAC, nisso e naquilo? É a União. Os Estados estão em péssima situação, com raras exceções, e os municípios estão todos quebrados. Então, está na hora de fazer uma redistribuição de renda, tirando de quem tem mais para dar a quem não tem.

Diógenes Dantas: Vamos falar sobre as eleições de 2010. A chapa do Democratas já está fechada, faltando apenas as suplências de Senado. Isso é bom ou ruim a tanto tempo ainda da eleição?

José Agripino: É agilidade. Eu acho que os partidos que avançam é porque encontraram caminhos naturais para avançar. Ruim é quando você monta uma chapa que você tem que ficar dando explicação. Quando você monta uma chapa que é formada por gravidade, a coisa vai bem. Nós conseguimos, em critério de racionalidade, fazer uma chapa que ninguém tem que explicar. Vamos ser claros, você não tem candidatura posta, porque isso você só tem após a convenção. Mas a candidatura de Rosalba [Ciarlini, senadora e pré-candidata do DEM], essa que saiu das ruas, está posta. A candidatura de Robinson [Faria, presidente da Assembleia Legislativa e líder do PMN], que estabeleceu uma composição absolutamente razoável e racional com Rosalba, está posta. Então, essa chapa está posta. A aliança de Garibaldi [Alves Filho, senador do PMDB] conosco é uma aliança que foi anunciada por ele em função dele respeitar a tendência natural do eleitorado dele e querer receber o voto de um eleitorado que tem [identificação], como o dele tem conosco. A aliança, pelo menos no plano político da disposição de voto entre nós e Garibaldi, também está posta. O que é que falta? Completar a composição com dois parceiros desejados, que são o PSDB e o PV.

Diógenes Dantas: O senhor já definiu isso? Porque depende muito da sua palavra nessa história toda.

José Agripino: Não é que seja da minha palavra, depende de entendimentos. Eu farei todo o possível para que a prefeita [de Natal] Micarla de Sousa [PV] participe da nossa chapa e, em participando, ela apóie José Agripino e Garibaldi, além de apoiar Rosalba. Agora, isso está no plano do desejo, não está fechado ainda. É natural que o PSDB deseje participar da chapa majoritária, indicando um dos suplentes de um dos senadores, isso em função da legislação eleitoral vai acontecer para um ou para outro. O PV, que eu desejo incorporar como nosso parceiro pelo governo, também é detentor do direito de indicar uma das suplências. Agora, quem vai indicar suplente de quem, depende das etapas que estão sendo costuradas. Primeiro de tudo, o apoio do PV a Rosalba, a Agripino e a Garibaldi, que é o que eu desejo e o trabalho que faço é neste sentido. Depois ver as conveniências e decidir quem indica o suplente de quem.

Diógenes Dantas: A prefeita Micarla de Sousa sempre deixou claro que tinha um compromisso com o senhor para o Senado da República. Mas, pelo que o senhor está falando, o senhor quer o apoio completo de Micarla.

José Agripino: Eu desejo [mas não é condicionante], até porque com uma liderança do tamanho da de Micarla, ninguém pode fazer imposições. Deixa eu fazer aqui uma revelação: eu tenho um critério que quero praticar nesta eleição. Você não pode obrigar ninguém a votar em ninguém. Você tem que respeitar. Existe, num município ou em outro, divergências. O líder político pode votar em Rosalba e Garibaldi, mas não votar em mim. Em outro município, o líder político pode votar em mim e Rosalba, mas não votar em Garibaldi. Em outro, é pouco provável, mas pode haver um líder que não votem nem em mim nem em Garibaldi, mas vote em Rosalba. A campanha que temos que dar como prioritária é a campanha da governadora. A proposta que eu vou fazer é que nós, nos municípios, compareçamos ao palanque do apoiador da candidata a governadora. A minha prioridade é Rosalba, mas estou trabalhando para que todos os companheiros que votem em mim votem em Garibaldi. Eu pretendo a unanimidade disso.

Diógenes Dantas: O senhor vai pedir voto para Garibaldi? Garibaldi disse aqui que iria pedir voto para o senhor.

José Agripino: É claro que sim, é evidente que sim. Já estou pedindo, Onde eu puder, aonde a minha voz chegar, onde meu apelo puder funcionar, o apelo será no sentido de que o voto seja para mim e para Garibaldi.

Diógenes Dantas: Mas o senhor não vai rejeitar o voto dos eleitores da governadora Wilma de Faria?

José Agripino: É o que eu disse. Ninguém pode impor voto, você tem que respeitar as tendências. Eu tenho consciência de que há muito eleitor no RN que vota em Wilma e em Agripino. Eu não posso nem rejeitar nem impor nada a essas pessoas, porque muitas delas têm vinculação partidária com a governadora Wilma. Agora, se eu puder, onde eu puder motivar e influir, é para que o voto seja para Rosalba e Robinson e para Garibaldi e José Agripino.

Diógenes Dantas: O PV vai se contentar só com a suplência de senador?

José Agripino: Veja bem, Micarla detém um partido que não é ela apenas. Ela tem deputados estaduais, vereadores, lideranças políticas expressivas em municípios importantes. [O deputado estadual] Gilson Moura tem influência em Parnamirim e em outras cidades. [O deputado estadual] Luiz Almir também, principalmente em Natal. Quem é que pode desconhecer o prestígio político de Paulo Wagner, que é um vereador de muita expressão? Edivan Martins, que é vereador e presidente do partido. Então, o partido está conversando através de Micarla sobre a disposição de apoiar a minha candidatura, a candidatura de Rosalba e a candidatura de Garibaldi. Estamos conversando, eu coloco as discussões no plano de igualdade. Eu não considero o apoio do PV a minha candidatura como fato consumado. Ele [PV] pode até não votar, é pouco provável. Mas na hora em que você conversa sobre isso, você conversa sobre composição de chapa e sobre participação em governo. No governo de Rosalba, com certeza absoluta, o PV terá participação. Assim foi feito quando eu apoiei Micarla [para prefeita em 2008], mas com uma diferença. O meu partido deu o tempo de rádio e televisão e não exigiu nada. Pelo contrário, trabalhou para que outro partido indicasse o vice para somar pontos no rumo da vitória de Micarla.

Diógenes Dantas: Mas tem uma grande presença hoje na administração dela.

José Agripino: Por convite dela, nunca impus, mas por convite natural. Temos participação expressiva por convite dela e para ajudar na administração dela.

Diógenes Dantas: Para a gente fechar essa questão da suplência, os nomes colocados na mesa são os de João Faustino [ex-deputado federal do PSDB], que poderá ser tanto seu suplente como de Garibaldi, e alguém do lado da prefeita. Eu soube que ela está indicando a mãe dela, Miriam de Sousa, e a irmã [Rosy de Sousa].

José Agripino: Não conversamos sobre nomes, mesmo porque temos que ver, primeiro de tudo, se o PV apóia Rosalba, Agripino e Garibaldi. Esse é o primeiro ponto. Com quem é que o PV pode fazer composição? Com o Democratas? Com o PMDB? O PMDB de Garibaldi aceitaria a indicação de João Faustino do PSDB para suplência? O PMDB do deputado [federal] Henrique [Eduardo Alves], aceitaria a composição com o PSDB? Se aceitar é um caminho. Senão aceitar, aceita o PV? Então, você tem uma série de condicionantes. Definida essa etapa, aí você vai para os nomes. Eu não conversei com Micarla sobre os nomes que o PV vai indicar. Seguramente o PV tem nomes para, quando chegar a hora, nós avaliarmos no rumo de nomes que somem para a chapa.

Diógenes Dantas: O noticiário político registra que o senhor teria a preferência pelo médico [e deputado estadual] Paulo Davim para a suplência. A informação procede?

José Agripino: Não é que eu tenha preferência. Paulo Davim é um nome que tem apoios importantes, a começar pela classe médica. É uma coisa que surgiu espontaneamente, o que não significa dizer que uma simpatia que eu tenha – não sei nem se o PV vai indicar meu suplente – é preferência. A preferência tem que ser do PV.

Diógenes Dantas: Até as convenções o senhor pretende definir isso, ou pensa em definir antes?

José Agripino: Eu acho que, vencida a etapa de [saber se] o PV vai se coligar por inteiro conosco e de quem o PV vai indicar o suplente, os nomes vão [aparecer] logo. Claro que esses nomes vão ser definidos antes da convenção. Nós estamos com a candidata a governadora, vice-governador e senadores pré-definidos. Não há porque não completar a composição pluripartidária com a indicação dos suplentes.

Diógenes Dantas: Comenta-se nos bastidores políticos que o DEM tem avaliado o desgaste das prefeitas de Mossoró e Natal – Mossoró com Fafá Rosado [DEM] e Natal com Micarla de Sousa [PV]. O desgaste pode influenciar na escolha da suplência do senador José Agripino?

José Agripino: Não necessariamente, até porque o desgaste das prefeituras é decorrente da crise mundial, que atingiu o Brasil, chegou aos estados e chegou aos municípios. Evidentemente que Fafá e Micarla, como restante dos prefeitos do RN e do Brasil, estão comendo uma dureta [sic], estão passando por uma fase muito complicada. Agora, as pessoas têm a consciência de que nós estamos num processo de eleição onde você vai eleger um governador que vai iniciar uma etapa nova. O que você vai avaliar é o currículo, a folha de serviços prestados dos candidatos a governador. Os apoios entram como apoios. Quem vai governar não é Fafá nem Micarla, com seus trunfos e com as suas deficiências. Quem vai governar é quem está se colocando como candidato. Os candidatos são Rosalba por um lado, [o vice-governador] Iberê [Ferreira de Sousa – PSB] por outro e [o ex-prefeito de Natal] Carlos Eduardo [PDT] por outro.

Diógenes Dantas: Alguns jornais da cidade destacam a questão do PMDB, a regra eleitoral, as consultas que estão sendo feitas ao Tribunal Superior Eleitoral poderão inviabilizar o PMDB, que está dividido, com uma banda com Henrique e outra com Garibaldi. Como é que o senhor está acompanhando essa questão? O PMDB de Garibaldi é uma certeza no palanque do DEM?

José Agripino: Certeza política, sim. Certeza legal é o que está se discutindo. Entre essa semana e na semana passada, recebi em Brasília 50% dos prefeitos do PMDB. Todos votam em Rosalba, Garibaldi e Agripino. Isso é uma questão de identificação política e partidária. Agora, entre isso e fazer a coligação passa pela decisão do partido, cujo presidente é o deputado Henrique Alves, que tem uma relação fraterna com o primo Garibaldi, tem dito que a prioridade dele e do partido é a eleição de Garibaldi e eles haverão de se entender do ponto de vista jurídico e legal para que Henrique tome o rumo que quiser e permita que Garibaldi tome o rumo que ele quer tomar e que é conveniente para a eleição dele. O que me dizem é que os dois tomaram uma decisão: o PMDB não fará coligação na majoritária com ninguém e ambos ficam livres para participar do palanque de Wilma ou de Rosalba.

Diógenes Dantas
: A candidatura do ex-prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves (PDT) está consolidada, parece que não tem mais retorno. Até que ponto três candidaturas de partidos tradicionais atrapalham o projeto do DEM?

José Agripino: Não é que atrapalhe, vai depende do desempenho deles. Numa disputa bipolarizada é certeza não haver segundo turno, porque um, se ganhar, vai ter mais de 50% dos votos. Na medida em que você tem mais de dois candidatos, você sinaliza matematicamente para a hipotética possibilidade de segundo turno. Os números de pesquisas mostram uma diferença bastante confortável para Rosalba, mas estamos muito distantes do pleito. Eu entendo que vai acontecer o seguinte: Carlos Eduardo tem expressão eleitoral concentrada em Natal. Iberê, que é vice-governador e vai ser governador daqui a pouco, tem a máquina partidária do PSB, tem uma concentração eleitoral mais proeminente no interior, notadamente na região do Trairi. Durante a campanha, um vai travar o outro, porque os dois são da base governista. Carlos Eduardo vai travar o crescimento de Iberê na capital e Iberê vai travar o crescimento de Carlos Eduardo no interior. Rosalba vai seguir o caminho dela, ela tem prestígio na capital e no interior.

Diógenes Dantas: É cedo para imaginar um segundo turno?

José Agripino: Não quero dizer que não vai haver segundo turno, mas pelos dados disponíveis, não haverá.

Diógenes Dantas: Eu li nesta semana uma declaração sua nos jornais dizendo que não faz oposição a Lula, mas sim a Wilma. Esse tipo de posição já se deve ao período eleitoral e à grande popularidade do presidente Lula?

José Agripino: Não me lembro de ter falado isso não. O que eu digo é o seguinte: eu não faço oposição pessoal a Lula, eu faço oposição aos erros do governo. Eu não faço oposição a Wilma, mas aos erros do seu governo. Eu não posso ser adversário do meu país nem do meu Estado. Quando Wilma queria a minha presença para a gente ir ao Palácio do Planalto conversar sobre refinaria de petróleo, sobre Aeroporto de São Gonçalo, sobre pólo do PVC, ela me teve sempre nas reuniões. Quantas vezes nós fomos ao ministro dos Transportes pleitear a obra de duplicação do contorno de Mossoró, a BR 226, a estrada do cajueiro?! Quantas vezes estivemos no Ministério da Integração para tratar sobre a transposição do São Francisco?! Quantas vezes estivemos no gabinete da ministra Dilma [Rousseff] para tratar sobre refinaria de petróleo, sobre Aeroporto de São Gonçalo, sobre pólo do PVC?! Quando está em jogo os interesses do Estado, não há divergências partidárias. Agora, errou, a minha língua está pronta para fazer o ataque devido em nome do interesse do povo, porque o povo percebe que na democracia é importante ter oposição – não oposição raivosa, destrutiva. Não tenho nenhum interesse em destruir ninguém.

Diógenes Dantas: O senhor disse agora que não fazia política para destruir ninguém, mas na última eleição municipal, aqui em Natal, o presidente Lula, num discurso até um pouco exasperado, exagerado, disse que vai trabalhar para destruir o político José Agripino Maia nas eleições. Como é que o senhor vai lidar com isso? O senhor vai tratar a eleição desse ano como uma questão de vida ou morte diante da ameaça do presidente Lula?

José Agripino: Em absoluto. Quem vai decidir se eu vou ser reeleito ou não, é o povo do RN, que vai receber os conselhos que os fatos vão lhe recomendar. Não é alguém dizer “vote em fulano ou vote em sicrano” que o povo vai votar. Se fosse assim, o presidente Lula, que é um homem de muita popularidade, que cometeu muitos acertos no governo, como comete alguns equívocos, ele teria ganho a eleição para Fátima Bezerra, porque ele veio aqui fazer a campanha de Fátima contra Micarla e, ao final, o povo, votando conscientemente, preferiu a opção de Micarla. Então, essa história de dizer “fulano de tal elege um poste”, isso é coisa do passado, do tempo dos coronéis. Essa história de tutelar voto é coisa de coronel, do passado, isso não existe mais. E talvez isso tenha sido um momento de emoção do presidente Lula, que não creio que ele vai insistir nessa tese porque quando ele ameaçou o resultado não foi bom.

Diógenes Dantas: E aí o senhor falou em acerto do presidente Lula, houve mais erros, houve mais acertos? Hoje o senhor tem condições de avaliar isso?

José Agripino: Muito mais acertos do que equívocos. Para o RN ele não acertou muito não, mas para o Brasil, o Bolsa Família é uma coisa que deu ao povo, aos mais pobres, um poder de compra que ele nunca teve. A política econômica acertada contendo a inflação em níveis civilizados possibilitou que as pessoas pudessem comprar a motocicleta e pagar em 60 prestações; poder comprar a televisão, a geladeira. O programa Minha Casa Minha Vida é um programa que promete. Ou seja, aquilo que vinha sendo construído antes. O Bolsa Família é decorrente da junção do Bolsa Escola com o Vale Gás. O presidente somou os dois e multiplicou, aumentou, fez do pobre um cidadão menos pobre, incorporado à atividade do Brasil, comprado em potencial, ativador da economia. Com o que? Com a redistribuição de renda pública. O aumento do salário mínimo, que nós no Congresso ajudamos a operar, igualmente promove redistribuição de renda para o brasileiro. A contenção da inflação, a política econômica de equilíbrio fiscal, de arrecadar, é verdade que o governo arrecada em cima de uma carga tributária vergonhosa, mas arrecada e mantém as contas públicas sob controle, o que mantém a inflação sob controle, o que faz com que o brasileiro possa, pela primeira vez, comprar coisas e pagar em cinco anos. Isso são coisas positivas. Esses são pontos positivos que ninguém pode negar e muito menos eu nego. Agora, há outras coisas negativas, e sobre elas no dia-a-dia eu me manifesto, no sentido de apontando os erros haver correção de rumos. É isso que eu quero. Quando eu me bato pelo Aeroporto de São Gonçalo, para que ele aconteça, para que a BR-101 Natal-João Pessoa-Recife saia da morosidade na qual se encontra. Quando eu me bato pela refinaria de petróleo, eu não aceito que chamem aquele engodo de Guamaré de refinaria. Refinaria é o que está sendo feito em Recife e o que anunciam para o Maranhão. Nos tiraram isso. A minha obrigação é bater, e bater forte para defender os interesses do RN. Agora, reconheço que o presidente Lula fez coisas positivas pelo Brasil.

Diógenes Dantas: O governo Wilma está terminando e eu queria que o senhor destacasse três pontos positivos e três pontos negativos e qual foi a grande marca deixada por Wilma. A outra questão é sobre o [José Roberto] Arruda [ex-DEM, sem partido, governador afastado do DF] de Brasília, mas primeiro eu gostaria que o senhor falasse sobre Wilma.

José Agripino: O primeiro governo Wilma foi um governo que quem avaliou foi o próprio povo que a reelegeu. Foi um governo tido como operoso e ela fez, ela fez coisas interessantes. A ponte Newton Navarro foi uma marca do governo. Agora, o segundo governo foi um governo que frustrou as expectativas, porque ela prometeu, e ganhou a eleição em função das promessas que fez e frustrou. Quais são os pontos negativos? A saúde, que vai muito mal; a segurança, que vai muito mal, e as denúncias de prática de incorreção no campo da probidade e que macularam a imagem do governo Wilma. Então, eu acho que se ela, no primeiro governo, ela obteve êxitos, no segundo governo ela gerou frustrações.

Diógenes Dantas: [Em relação a] Arruda. O DEM desde o ano passado vive essa crise, filiados ao partido envolvidos em um dos maiores escândalos de corrupção do país. Até que ponto o DEM resolveu seus problemas nessa crise do governador [afastado do DF] José Roberto Arruda, filiado ao DEM [atualmente sem partido]?

José Agripino: Não é que tenha resolvido. As crises ensejam a oportunidade dos partidos mostrarem a sua cara real. Veja bem... no momento o PT está sendo acusado de ter, no seu tesoureiro, o senhor [João] Vaccari [Neto], um homem que desviou dinheiro de uma cooperativa [Bancoop], uma cooperativa que existe para, recebendo doações de mutuários, construir casas, apartamentos para pessoas. Os apartamentos não foram feitos, as prestações foram pagas e dessa cooperativa o senhor Vaccari é acusado de ter feito saques em dinheiro. Ninguém saca de uma cooperativa um cheque de R$ 1 milhão. Mas a acusação feita é que houve saques em dinheiro para destinação em Caixa 2, em doação ilegal à campanhas do PT, inclusive uma figura que disse que [o dinheiro] foi [destinado] para a própria campanha do presidente Lula. O que o PT fez com o senhor Vaccari? Absolutamente nada. Pelo contrário, está processo o promotor público de São Paulo, o senhor [José Carlos] Blat, que está oferecendo a denúncia. Ou seja, age truculentamente. Ao invés de tomar as providências com humildade em cima das acusações, que são muito graves, o PT prefere agredir o acusador, processar o promotor público que está acusando ao invés de tomar providências. O que é que nós fizemos? Nós temos um único governador, tínhamos, só um, o Arruda. Foi acusado daquilo que a TV mostrou, uma vergonha. O que o partido fez e fui eu quem tomei a iniciativa? Eu apresentei um pedido no primeiro momento de expulsão em rito sumário do governador. E depois conduzi a expulsão do vice-governador, do presidente da Assembleia [Leonardo Prudente] e a dissolução do diretório do partido em Brasília. O partido Democratas fez história, cortou na carne, então fez aquilo que os outros acusados de coisas semelhantes não tiveram a coragem ou a autoridade moral para fazer. Então, o episódio Arruda vai fazer história partidária e essa história de mensalão do DEM, mensalão do DEM não, mensalão do DEM de Brasília, que foi dissolvido por nós do Democratas que tivemos a coragem de fazer a depuração daqueles que não merecem nem a nossa confiança nem a confiança do Brasil, lamentavelmente.

Diógenes Dantas: O Arruda está preso desde antes do carnaval e a imprensa nacional, se não me engano, Josias de Souza, da Folha de São Paulo, relatou que o governador, nesses dias de prisão, prepara um documento inclusive deixando mal algumas lideranças do Democratas, entre elas o [senador de Goiás] Demóstenes Torres, o senhor e, se não me engano, o presidente do partido, [deputado federal do RJ] Rodrigo Maia. O senhor teme alguma coisa, alguma declaração constrangedora do Arruda depois que ele deixar a prisão, senador José Agripino?

José Agripino: É normal e natural que um governador que tenha sido defenestrado do partido guarde mágoas daqueles que cumpriram a sua obrigação cívica, promovendo a defenestração, a expulsão dele, é até compreensível do ponto de vista humano. Agora, eu não temo absolutamente nada, principalmente ameaça. Eu acho que quem tem o que dizer, não tem que ameaçar, tem que mostrar, e ele está desafiado é a mostrar o que tiver, não escrevendo num papelzinho insinuações ou hipotéticas acusações. Eu não temo absolutamente nada.

Diógenes Dantas: Em nenhum momento o diretório do Democratas de Brasília, por exemplo, colaborou com o diretório daqui em eleições? Por exemplo, o que poderia ser esse tipo de ligação, esse tipo de insinuação?

José Agripino: Doações legais? Claro que sim. É evidente, a lei permite você receber doação de empresas para o diretório nacional e o diretório nacional distribuir para o Brasil inteiro.

Diógenes Dantas: Mas [doações] do diretório de Brasília para o do RN, não?

José Agripino: Não, absolutamente, de forma alguma. O que houve na eleição passada, do ano passado, foram doações de muitas empresas que fizeram doações ao diretório nacional do partido e o diretório nacional direcionou para a campanha de Salvador, para a campanha de Mossoró, para o diretório estadual do RN para as campanhas do RN, para o Brasil inteiro, o que é normal e a lei permite. E na medida em que você não tem financiamento público de campanha, o financiamento privado é o caminho e a saída.
Diógenes Dantas: Senador José Agripino Maia, este vai ser um ano bastante animado do ponto de vista eleitoral, um ano complicado, um ano que inclusive o senhor vai tentar renovar o mandato pela quarta vez. (...) Qual é a expectativa do senhor para este ano, inclusive para uma briga aguerrida, que terá um aliado do senhor hoje, que é Garibaldi e que também terá uma ex-governadora na disputa pelo Senado da República?
José Agripino: Eu vejo sempre disputas eleitorais com humildade. Eu respeito adversário, eu reconheço que o senador Garibaldi, a governadora Wilma e todos os restantes contendores têm o direito a pleitear o voto e apresentarão seus argumentos na hora certa. Eu não sei se o PT vai ter candidato, Sávio Hackradt acho que se apresenta como candidato do PCdoB, é um rapaz de muito boa qualidade moral, enfim, Joanilson de Paula Rêgo é um outro advogado de muito boa qualidade e prestígio. São pessoas que vão pleitear o voto do povo do RN e apresentar as suas propostas e apresentar as suas histórias de vida. Eu tenho uma história de vida, eu vou apresentar o que eu tenho e vou pedir ao povo que me julgue, agora sem pretensões de aparecer como favorito, mas também não como candidato que não tenha chance. Eu acho que tenho boas chances e vou disputar mais este mandato de senador mostrando o que eu fui, o que eu sou e o que eu pretendo ser.

Diógenes Dantas: Já ganhou várias vezes, não é? Há um clima de “já ganhou”?

José Agripino: De jeito nenhum. O clima de “já ganhou” é o pior conselheiro para quem quer disputar e ganhar uma eleição. Quem quer disputar para ganhar tem que botar na cabeça que o condimento básico, para começo de conversa, é o da humildade, é disputar a eleição dia-a-dia até o último dia disputando o voto de cada cidadão com honestidade, mas também com determinação.

fonte:NM
 

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