Sessão
solene do Congresso Nacional marcou, nesta quarta-feira (03), às 10h,
o centenário de nascimento de Tancredo Neves. Na homenagem, que foi
realizada no Plenário do Senado, deputados e senadores lembrarão a
trajetória política do mineiro de São João Del Rei, em especial sua
participação no turbulento período que marcou o fim da ditadura militar
e o processo de redemocratização do país.
Tendo
José Sarney como vice, Tancredo de Almeida Neves foi eleito presidente
da República pelo Colégio Eleitoral em 15 de janeiro de 1985. Na
véspera de tomar posse, em 14 de março daquele ano, Tancredo foi
internado em estado grave e o vice-presidente José Sarney assumiu o
cargo. Depois de ser submetido a sete cirurgias - duas realizadas em
Brasília e outras cinco em São Paulo -, o político mineiro morreu, no
dia 21 de abril de 1985, na capital paulista.
A
eleição de Tancredo marcou o rompimento de quase 21 anos de regime
militar no país, que teve início em 31 de março de 1964. A chapa de
Tancredo e Sarney, denominada Aliança Democrática, foi formada após a
derrota da emenda Dante de Oliveira no Congresso, em abril de 1984, que
previa eleições diretas para presidente da República.
Nascido
em 4 de março de 1910, o advogado Tancredo Neves ingressou na política
Partido Progressista, pelo qual foi eleito vereador em sua cidade
natal, em 1935, cargo que exerceu até 1937. Posteriormente, elegeu-se
deputado estadual e deputado federal pelo PSD (Partido Social
Democrático), cargos que ocupou, respectivamente, de 1947 a 1950 e de
1951 a 1953.
Em 1953, Tancredo foi ministro da
Justiça e também ministro de Negócios Interiores. Em 1954, foi eleito
novamente deputado federal, ficando no cargo por um ano. Foi também
diretor do Banco de Crédito Real de Minas Gerais (1955) e da Carteira
de Redescontos do Banco do Brasil (1956-1958). De 1958 a 1960, assumiu
a Secretaria de Finanças de Minas Gerais.
MDB
Com
a instauração do regime parlamentarista, após a renúncia de Jânio
Quadros, Tancredo foi nomeado primeiro-ministro, cargo que ocupou no
período de 1961 a 1962. Em 1963, voltou a ser eleito deputado federal e
foi um dos líderes do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido
criado em 27 de outubro de 1965, a partir do Ato Institucional 2. Esse
ato decretou a extinção de todos os partidos políticos então existentes
e instituiu o bipartidarismo, representado pelo MDB e pela Arena
(Aliança Renovadora Nacional).
Entre 1963 e
1979, Tancredo foi reeleito deputado federal seguidas vezes. Em 1978,
após a volta do pluripartidarismo, Tancredo foi senador pelo MDB e
fundou o PP (Partido Popular). Em 1983, deixou o PP e ingressou no
PMDB, pelo qual foi eleito governador de Minas Gerais (1983-1984).
Foi
durante esse período, de grande mobilização política em defesa de
eleições diretas para presidente, que se consolidou a candidatura de
Tancredo Neves para representar a coligação dos partidos de oposição ao
governo, reunidos na Aliança Democrática.
Tancredo
era um oposicionista ao regime autoritário, porém conciliador de linha
moderada e formação liberal. Devido a sua história política e por ser
um conciliador, era aceito pelos militares, sem risco de retrocesso
político.
Polêmica
A
doença de Tancredo foi tema polêmico mesmo depois de sua morte. Os
diferentes diagnósticos divulgados desde sua internação - apendicite,
diverticulite e infecção hospitalar - foram, após sua morte, seguidos
de especulações quanto à existência de um tumor benigno (leiomioma).
Essa
falta de clareza nas informações se explica pela situação política da
época - havia ainda o receio de que a doença de Tancredo Neves
comprometesse a transição para o regime democrático e levasse o país de
volta ao controle dos militares. Segundo depoimento do governador de
Minas Gerais, Aécio Neves - neto e então secretário particular de
Tancredo -, e também do historiador e ex-ministro Ronaldo Costa Couto,
temia-se que a verdade sobre a saúde de Tancredo impedisse a posse de
José Sarney.
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