Foto: Ricardo Matsukawa/Terra
Parecia carnaval em Recife (PE), mas era dezembro, e não fevereiro, e os blocos não tomaram conta das ruas. Ao invés de folia, o motivo da festa era a despedida oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de seu Estado de origem.
Uma multidão lotou o Marco Zero, no bairro do Recife Antigo, na noite
desta terça-feira (28), para prestigiar a festa organizada pelo PSB – do
governador de Pernambuco, Eduardo Campos – para o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, que se emocionou e chorou por pelo menos três
vezes no palco. Vários artistas pernambucanos passaram pelo palco do
local, e a cada apresentação o público entoava aquele que é um dos mais
conhecidos jingles da política nacional: “olê, olê, olê, olá. Lula, Lula”.
Eram pouco mais das 19h30 quando Lula subiu ao palco. O poeta popular
Antônio Marinho foi o primeiro a arrancar lágrimas do presidente, ao
recitar poema que falava sobre o Nordeste, o Prouni e a rodovia
transnordestina. Com versos sempre encerrados com a frase “Pernambuco
agradece ao presidente mais amado da terra brasileira”, Lula não
resistiu à homenagem e chorou copiosamente.
Antes de discursar, Lula recebeu a maior comenda do governo de
Pernambuco, a ordem do mérito dos Guararapes, repassada pelo governador
Eduardo Campos, que falou “em nome de todos os pernambucanos e
pernambucanas”. “Coube a mim dizer o que Pernambuco sente, o que é um
tremendo desafio. Nós não estamos aqui para dizer adeus, mas sim para
dizer obrigado e até logo”, disse, também levando o presidente ao choro.
Em seu discurso, Lula fez um histórico de sua caminhada política, mas
não deixou de pedir apoio à futura presidente e anunciar um breve
retorno. “A palavra de ordem é apoiar a companheira Dilma e ela será
companheira de Pernambuco. Ela, junto com Eduardo [Campos], vai fazer
muito mais. Eu saio da presidência, mas não pensem que vão se livrar de
mim, porque vou estar nas ruas desse país para ajudar a resolver os
problemas do Brasil”, afirmou.
Ao lembrar suas derrotas, Lula afirmou que a desconfiança foi a
responsável pelos insucessos em 1989, 1994 e 1998. “Eu perdi porque uma
parte do povo pobre não confiava em mim. Eu lembro em 1989, aqui em Casa
Amarela [bairro do Recife], uma mulher veio de uma casinha velha e me
disse: 'eu não voto em você porque você vai tomar tudo que tenho'. E eu
dizia, vou tomar o quê dessa mulher? E cheguei em casa e disse a Marisa
que fiquei assustado, porque essa pessoa que eu queria ajudar, tinha
medo de mim. E Marisa me disse: tente novamente que isso um dia vai
acontecer, e aconteceu em 2002”, disse Lula, sem conter as lágrimas pela
terceira vez na noite.
O presidente seguiu contando sua história e disse que não acreditou que
estava no poder. “Em 2002 eu ganhei e perguntei a Marisa, será que eu
tenho condições de governo? Falava, será que é verdade que a gente está
aqui?. Eu sabia que se falhasse, (a falha) não seria minha, mas da
classe trabalhadora, dos pobres, que iriam provar que não teriam
competência para governar”, assegurou.
O presidente ainda agradeceu a Deus e disse que só ele explica sua
chegada à presidência. “Eu sou agradecido a Deus. Se não fosse o dedo de
Deus, não seria normal um retirante de Caetés, que fugiu da fome, se
transformar em presidente. Quem não acredita em Deus, acredite”,
assegurou.
Lula se disse ainda feliz por ter dado início à obra da transposição do
rio São Francisco, que está em andamento. “Eu fui o único presidente
que não a prometi. Mas em 2012, a companheira Dilma Rousseff vai ter a
honra de inaugurar a obra que vai irrigar a área de semiárido mais
habitada no mundo. Graças a Deus ela vai sair, porque assim o povo
quis”, prometeu.
Por fim, Lula ainda agradeceu a homenagem dos pernambucanos. “Eu não
tenho palavras para agradecer o carinho que vocês pernambucanos tiveram
comigo ao longo da trajetória política”, finalizou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário