sexta-feira, 17 de junho de 2011

Cafucú: um coroné defensor da cultura

“Sou artista popular com dez anos de sofrimento nesse país escroto que não investe na arte que o povo mais fala e canta”. Assinado: Coroné Cafuçu. O poeta “coroné” (sobre)vive do cordel cantado, poetizado. O humor quase folclórico nos trajes, trejeitos e poesias rende algum reconhecimento na Currais Novos arcaica das lembranças de outrora. É pouco pela estrada percorrida, pelos obstáculos ultrapassados e para quem cresceu com uma viola e uma enxada na mão.
Humor, Forró e Poesia é o terceiro disco lançado pelo Coroné Cafuçú Foto :Fábio Cortez/DN/D.A Press Raimundo Ferreira Campos alcançou a patente de coroné após anos de combate nas trincheiras da poesia matuta. Não é militar, mas militante. Um soldado da arte popular mais genuína; das manias do sertão; dos costumes do caboclo, do vaqueiro. É o que se vê no CD Humor, Forró e Poesia, que tenta divulgar em Natal. E se faz numeroso como uma tropa de elite na divulgação dessa cultura popular no programa independente de grande audiência na rádio AM (1360) de Currais Novos, ou na TV, Canal 40, com o programa Vivência Sertaneja.
Como todo artista popular, Raimundo é autodidata. Sua escola foi a roça, os cenários rústicos de pedras e plantações do município de Luís Gomes, no Oeste potiguar. Na agricultura plantava sonhos de artista desde menino besta. E os frutos só colheu aos 20 anos, quando arrendou um programa no rádio de Currais Novos. “Peitei mesmo o dono com essa cara de rapariga que eu tenho e disse que queria um programa. Em três anos eu era diretor da Rádio Ouro Branco, a mais ouvida da cidade”, se orgulha.
E o orgulho vai além: “Nos meus programas ensino o ouvinte ou o telespectador a aplaudir a verdadeira cultura; a cultura que deveria ser encarada com seriedade”. E na contramão da mídia de massa e suas ofertas de entretenimento consumido como comida: esquecido, e substituído por um novo prato, Coroné Cafuçú – personagem criado em 1984 – inicia o dia na rádio às 5h25 com um café da manhã que alimenta a alma sertaneja ou os apreciadores da cultura popular e do forró pé-de-serra.
O Coroné também apresenta sua poesia matuta recheada de repentes, causos, tiradas humorísticas e ironias contra os mandos e desmandos políticos em eventos pelo interior potiguar e outros chãos do Nordeste. Já são três CD’s lançados. No primeiro já foi convidado a apresentar seus poemas em vários veículos da imprensa nordestina. Os poemas “Zé Brocoió”, que aborda o dia-dia do homem matuto; “Me enganei na eleição”, uma crítica política com muito humor; e “Com medo de Lampião”, foram os mais destacados.
Após o sucesso deste, logo em seguida veio o segundo CD, com poemas novos e um teor ainda mais descontraído, consagrando o sucesso do personagem. Poemas como: “Casamento de Chica”, “Nas unhas do delegado”, “Com medo de Zé Lotero”, todos com uma trilha sonora bem selecionada e adequada ao estilo nordestino, repetiram o grande sucesso do primeiro CD.
Em 2010, Coroné Cafuçú inovou e uniu as belezas das suas poesias à música no terceiro CD, intitulado “Humor, Forró e Poesia”. Foi a união da poesia matuta à sofisticação musical. Nos arranjos e parcerias musicais Raimundo recebeu o talento do violonista, compositor e saudoso Tico da Costa, e de um dos mais conhecidos maestros do Rio Grande do Norte, Bembém Dantas. E a tropa reunida fez de Forró do Coroné e das poesias Uma prece para São José, Cacimba Doce e Meu Juazeiro, sucessos no interior.

Diário de Natal

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