sábado, 4 de fevereiro de 2012

Imprudência de alto custo à saúde pública

Diário de Natal
A estrada entre Lagoa Salgada e Vera Cruz, a RN-160, tem muitas curvas. Os trechos mais sinuosos e escuros são as últimas lembranças da fria noite de domingo que viveu o plantador Humberto Guedes de Moura, 28 anos. Ele perdeu o controle de sua moto, uma Honda Fan 125 cilindradas, ao deixar um amigo na cidade vizinha. Na descida de uma das curvas, observou de longe dois homens em uma moto maior, uma 150 cilindradas. "Pensei que eram bandidos querendo me assaltar", conta. "Reduzi a velocidade e 'puxei' a quinta [marcha]. Não vi que tinha um quebra-molas porque tava olhando no retrovisor. Cai. Só acordei quando me levaram pro hospital". O homem fraturou o osso da testa, teve escoriações e está afastado por tempo indeterminado do trabalho. Virou estatística de trânsito e de saúde pública.
Acidentados respondem por parte dos corredores lotados no Walfredo Gurgel. Fotos: Fábio Cortez/DN/D.A Press
O relato é extremamente comum nos corredores do maior hospital público do Rio Grande do Norte. Acidentes de trânsito lotam o Pronto-Socorro Clóvis Sarinho, no Walfredo Gurgel, para onde vai a maioria dos acidentados graves do Estado. O RN, aliás, num período de 15 anos, entre 1996 e 2011, registrou um aumento considerável no percentual de ocorrências: 67,3%. No ano passado foram 656 acidentes, quando em 1996 eram 392. Os dados foram divulgados essa semana pela Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed), com base em informações da Subcoordenadoria de Estatística e Análise Criminal.
Sorte: Humberto Guedes não usava capacete ao cair da moto na estrada RN-160. Fotos: Fábio Cortez/DN/D.A Press
Além do número de acidentes e dos locais de maior incidência dos últimos quinze anos, os números da Sesed atestam que a maior parte das vítimas de acidentes de trânsito se assemelham ao perfil de Humberto Guedes de Moura. Em geral são homens (84,9%), solteiros (61%), jovens entre 26 e 33 anos de idade (21,9%) e naturais do Rio Grande do Norte (90,2%). A única parte em que o plantador Humberto não se enquadra é ser natural do Estado. Ele nasceu em São Paulo, mas mora aqui desde a adolescência.

As estatísticas se baseiam nos laudos do Instituto Técnico-Científico de Polícia (ITEP), dos hospitais de trauma do Estado, como o Walfredo Gurgel, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Comando de Policiamento Rodoviário Estadual (CPRE) e Polícia Rodoviária Federal (PRF). Parte do crescimento no número de acidentes no período de mais de uma década se justifica pelo aumento da frota. O Estado tinha 204 mil veículos em 1996, e passou a ter 868 mil no ano passado, segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Isso significa dizer que a quantidade de veículos nas ruas e rodovias cresceu espantosos 325,2%, acompanhando a seta para cima do número crescente de acidentes e acidentados.

Perigo de morteSe há acidentes, a probabilidade de haver mortes também é maior. A taxa de mortes, de acordo com a frota, gira em torno de 7,6 hoje, mas já foi de 19,2 em 1996, isso considerando um índice de uma morte para 10 mil veículos circulando. A região metropolitana de Natal, especialmente a capital, Parnamirim e Macaíba, além das estradas no entorno de Mossoró e no trecho entre Tangará e Santa Cruz podem ser consideradas as vias mais perigosas. É nas estradas mais sinuosas desses locais onde ocorrem mais acidentes.

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