O Hospital Walfredo Gurgel, referência no tratamento de pacientes politraumatizados no Rio Grande do Norte, corriqueiramente, além da superlotação, passa por problemas estruturais, que podem comprometer o atendimento dos enfermos. Atualmente, dois dos quatro elevadores que servem aquela unidade estão quebrados e, por isso, o maqueiro que estiver transportando um cadáver não tem acesso internamente ao necrotério, aonde só pode chegar saindo do prédio.
Júnior SantosLixo comum e orgânico está acumulado junto à unidade há pelos menos duas semanas
A TRIBUNA DO NORTE flagrou dois instantes em que isso ocorreu. Às 16h11, um maqueiro saiu com o corpo de um homem, que acabara de falecer. Às 16h29 passou o cadáver de uma mulher, em decorrência de politraumatismo.
Outro problema na unidade é o lixo orgânico e comum, acumulado há pelo menos duas semanas, no fundo e ao lado do terceiro prédio que compõe aquele complexo hospitalar. Um auxiliar de manutenção disse que "nunca tinha acontecido isso nos 25 anos que trabalho aqui".
O mesmo funcionário do WHG, que não quis se identificar para evitar problemas, disse que vinha ocorrendo atraso no pagamento à empresa responsável pela coleta de lixo, enquanto o chamado lixo hospitalar "estava sendo recolhido regularmente".
Já o secretário estadual de Saúde Pública, Domício Arruda, confirmou que havia um contrato precário com a empresa Limp Express, mas disse que ela "estava usando a imprensa para fazer cobrança" das dívidas que a Sesap tinha pela prestação do serviço de coleta do lixo comum.
Domício Arruda disse que a Sesap já pagou o que devia à empresa pela coleta de lixo de 2011 e uma parcela relativa a janeiro deste ano. Ele acrescentou que faltam pagar dois meses, um valor de R$ 40 mil que será quitado a título de indenização, porque um novo contrato de 12 meses já foi assinado e que começou a vigorar em março, com uma despesa mensal prevista de R$ 22 mil.
Por intermédio de sua assessoria de imprensa, a TRIBUNA DO NORTE obteve a informação de que a coletado lixo comum e orgânico, que fica num dispensário ao lado de um quarto exclusivo para receber o lixo hospitalar, seria regularizado pela Limp Express até amanhã.
Quanto aos elevadores que estavam quebrados, a informação do HWG é de que a empresa Elevadores Masters havia feito a manutenção dos equipamentos e estes tinham voltado a funcionar entre o fim da tarde e o começo da noite de ontem.
Um médico que não quis se identificar, também disse que os técnicos do Hospital Walfredo Gurgel só estão se alimentando porque se servem da mesma comida destinada aos pacientes. Para os médicos, que ali trabalham, a alimentação foi cortada "por falta de pagamento ao fornecedor".
O médico disse que faltam muitos itens no hospital e que, essa situação, deverá ser oficializada junto à governadora Rosalba Ciarlini com uma "carta aberta", elaborada pelos médicos lotados naquela unidade hospitalar, que há pelo menos dois meses está sem diretor geral, pois o médico Mozar Dias de Almeida saiu de férias e pediu para deixar o cargo.
O secretário Domício Arruda explicou que, numa reunião com o quadro de médicos do HWG, pediu-se que fosse elaborada uma lista a critérios dos seus profissionais, para que dali saísse a nomeação do novo diretor geral. Mas, o que decidiram foi a formação de uma comissão para gerir a unidade, o que vai de encontro à orientação do governo.
Por enquanto, segundo Arruda, uma médica vem respondendo pelo expediente da direção geral por questão legal, enquanto continuam lá o diretor técnico João Rabelo e o diretor administrativo-financeiro, Josenildo Barbosa.
Júnior SantosCorpos levados por maqueiros para o necrotério pelo lado de fora do Walfredo Gurgel
Promotora visita o Clóvis SarinhoOs funcionários do Hospital Walfredo Gurgel estão em greve há 30 dias e, ontem à tarde, convidaram a promotora de Defesa da Saúde, Iara Pinheiro, para visitar o pronto-socorro Clóvis Sarinho, que passa por uma crise de desabastecimento.
Iara Pinheiro não quis antecipar nada para os jornalistas, nem antes e nem depois de sua chegada, mas afirmou que aquela "era uma visita de rotina".
O diretor do Sindicato dos Servidores da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Sindsaúde-RN), Marcelo Melo, disse que amanhã deverá ser entregue um relatório à promotora sobre as condições de trabalho dos funcionários e de atendimento aos pacientes do HWG, que inclui o pronto-socorro Clóvis Sarinho: "Na quinta ou sexta-feira ela também ficou de apresentar um relatório de sua visita".
Marcelo Melo disse que o mínimo de 30% dos servidores estão garantidos e não inviabiliza o funcionamento do hospital e nem houve redução da demanda e nem paralisação do atendimento da UTI. "A única redução que há é a falta de medicamentos e material para tratamento dos pacientes, no sentido de logística e não de falta de servidores na UTI".
O sindicalista Paulo Martins,disse que tudo o que a promotora viu, "são coisas que ela já está acostumada a ver". Segundo ele, a promotora sabe muito bem da realidade do HWG, os corredores superlotados, falta de profissionais e, inclusive, "ela requereu na Justiça a contratação de mais servidores, mas isso foi negado, porque o Estado sempre recorre dessa situação".
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