Leandro Cunha e Roberto Lucena - Repórteres
O cenário no
interior do Rio Grande do Norte mudou nas últimas semanas. A chuva que
caiu em todas as regiões do Estado transformou a paisagem em poucos
dias. O cinza da vegetação sem vida deu lugar ao verde que salta aos
olhos, as nuvens surgiram e o cheiro de terra molhada anima os
agricultores. À primeira vista, a impressão de que a severa estiagem deu
uma trégua aos potiguares convence, porém essa ainda não é a realidade.
As últimas chuvas amenizaram o sofrimento, mas não garantiram, por
exemplo, o abastecimento dos reservatórios. Agricultores e pecuaristas
temem que o período de chuvas seja muito curto e a “seca verde” castigue
a produção.
A Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn)
registrou, até a última segunda-feira, um bom volume de chuvas em todo
Estado. O maior acúmulo foi no município de Major Sales, a 427
quilômetros de Natal. Lá, o registro é de que já caiu 626,1mm de água.
Na outra ponta da lista, está Japi, a 134 quilômetros da capital, onde
choveu apenas 32,6mm. A chuva trouxe esperança para o homem do campo e
foi a responsável pelo surgimento de pasto e sangria de pequenos açudes
na região Oeste.
Mas as precipitações, até o momento, não
chegaram a mudar de forma efetiva a realidade nos rincões do Estado. Na
última terça-feira, a TRIBUNA DO NORTE percorreu parte do Seridó e
região Central do RN e ouviu o relato de pecuaristas e agricultores. Há
uma dualidade de sentimentos: esperança e medo. “A chuva deu uma
aliviada. A gente não tinha nem onde levar o gado para comer. Agora,
tem. Mas se não chover mais, tudo vai se perder”, resumiu Pedro de
Brito, 49 anos, pequeno criador no município de São José do Seridó.
O
criador estava, na manhã da última terça-feira, cuidando de oito
cabeças de gado que comiam a vegetação rasteira que nasceu às margens da
RN-288. “Vendi as outras nove cabeças de gado que tinha. Ficaram essas e
escaparam por pouco. Não fosse as chuvas da semana passada, a coisa
estava bem pior”, disse Pedro de Brito. Segundo a Emparn, em São José do
Seridó, choveu 256 mm até a última segunda-feira.
O mato –
conhecido como babuge – que nasceu recentemente é motivo de alegria, mas
também de preocupação. Alguns animais passam mal depois de ingerir o
alimento e é preciso cuidado para que eles não morram. “O gado, morto de
fome, come muito a babuge. Às vezes tem lagarta no meio do mato e isso
dá dor de barriga no gado”, explicou Pedro de Brito. Devido às dores, os
animais deitam no chão. Alguns morrem.
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