quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

CGU intensifica a fiscalização

Após dois anos de execução do programa PAC 2 Equipamentos, se multiplicam os casos de prefeitos que utilizam para fins particulares as retroescavadeiras e motoniveladoras doadas aos municípios pelo governo federal, o que levou a Controladoria Geral da União a intensificar a fiscalização para acompanhar de perto o uso das máquinas.

A doação dos equipamentos é uma das principais armas eleitorais da presidente Dilma Rousseff para se aproximar de prefeituras e aumentar a capilaridade das ações do Executivo. Um dos casos mais emblemáticos de irregularidade ocorreu em Santa Fé do Araguaia (TO), município de 7 mil habitantes encravado na região amazônica, com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M) na faixa de 0,616, abaixo da média nacional. Conforme ação civil pública movida pelo Ministério Público estadual, uma motoniveladora que deveria auxiliar a recuperação de estradas vicinais foi utilizada para a melhoria das estradas internas de área de propriedade de um fazendeiro aliado do prefeito Fleuri José Lopes (PSB).
Equipamentos foram adquiridos por intermédio do Programa de Aceleração do Crescimento e repassados às PrefeiturasFoto: Magnus NascimentoEquipamentos foram adquiridos por intermédio do Programa de Aceleração do Crescimento e repassados às Prefeituras

“As políticas públicas precisam ter planejamento para serem aplicadas”, disse ao Estado o promotor Alzemiro Peres Freitas. “Quando não tem planejamento, você compra uma máquina, doa e deixa a Deus-dará. Sempre estou com o pé atrás com essa politicagem deste País que vivemos.” Os equipamentos do PAC 2 são doados para municípios com menos 50 mil habitantes e devem ser utilizados para “abertura, recuperação, readequação e conservação de estradas vicinais na zona rural de municípios com predominância de agricultores familiares e para mitigação dos efeitos da seca nas regiões do semiárido”.

Procurada pela reportagem, a CGU informou que está acompanhando a execução do programa. De acordo com órgão, os municípios fiscalizados foram selecionados “por amostra probabilística ou relevância” pelas unidades da CGU em 22 Estados, com o objetivo de averiguar, entre outras coisas, a utilização adequada e a operacionalização dos equipamentos.

Controle
“Após a conclusão dos trabalhos, os resultados serão apresentados aos gestores federais. É importante destacar que os trabalhos estão em execução, o que impossibilita a emissão de opiniões preliminares antes de percorrido o fluxo institucional da CGU quanto à elaboração, revisão, homologação, consolidação e apresentação dos produtos ao gestores federais”, destacou.

O Ministério Público constatou que as estradas particulares das fazendas estavam “em perfeitas condições” de trafegabilidade, enquanto a população de Santa Fé do Araguaia enfrentava grande dificuldade com as más condições das vias públicas. “As estradas não prestam no Tocantins inteiro, estão cheias de buraco”, criticou a merendeira Maria de Jesus dos Santos, moradora do município.

Em junho, um mês após a doação, a 1ª Vara Cível da Comarca de Araguaína determinou a apreensão da motoniveladora. O equipamento foi liberado depois, com a condição de que as autoridades municipais fizessem audiência pública com a comunidade para elencar as principais demandas. Envolvido em uma série de denúncias, o prefeito foi afastado do cargo em setembro, mas conseguiu na Justiça o direito de retomá-lo neste mês.

Em Inhumas, no interior de Goiás, vereadores receberam a denúncia de que uma retroescavadeira doada em agosto deste ano pelo programa foi utilizada na chácara do sogro de um funcionário da Secretaria da Saúde do município três meses depois.

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