Senador vê “sacanagem” na cobertura jornalística da apreensão de mais de 400 kg de cocaína em helicóptero do filho e diz que pensa em largar a política. “A imprensa quer ver sangue, massacrar”
O senador Zezé Perrella (PDT-MG) rompeu o silêncio e falou, pela
primeira vez, na tribuna do Senado, sobre a apreensão pela Polícia
Federal de um helicóptero de propriedade de seu filho, o deputado
estadual Gustavo Perrella (SDD), que transportava mais de 400 kg de
cocaína. Perrella disse ter ficado enojado com a cobertura jornalística
sobre o caso e que chega a pensar em abandonar a política. Segundo ele,
parte da imprensa foi “sacana” com seu filho ao associá-lo ao transporte
da droga. “A imprensa quer ver sangue, massacrar. Meu filho não conhece
droga. Tanto eu quanto meu filho lutamos contra as drogas”, declarou o
senador.
Perrella disse que seu filho foi chamado a prestar depoimento por ser
o dono da aeronave, mas que não tinha qualquer conhecimento de que o
helicóptero havia sido usado para transportar a droga. O pedetista diz
que seus adversários tentam explorar politicamente o episódio. “Quando
vejo essas matérias, dá nojo de mexer com política. Tinha 50
manifestantes na porta da Assembleia Legislativa jogando farinha. Estão
querendo transformar isso em evento político, na base da sacanagem de
quem não merece”, afirmou. “Quando vejo tudo isso, dá vontade de largar a
política”, acrescentou.
O senador disse que seu filho não bebe, não fuma e nunca usou droga.
De acordo com o senador, a família foi traída pelo piloto. “Quase levei
esse garoto para morar na minha casa. Tinha cara de gente boa. Nosso
único erro foi ter confiado nele. É como emprestar seu carro para alguém
comprar pão na esquina e esse carro é usado para comprar droga ou
assassinar alguém. Que culpa você tem? Não aceito isso”, comparou.
Segundo o senador, o piloto foi cooptado pelo copiloto, que teria
feito a proposta para transportar a droga. “Eles receberiam R$ 104 mil
para fazer esse frete. O piloto ficaria com R$ 60 mil e o copiloto com
R$ 44 mil”, contou.
Frete
Zezé Perrella afirmou que seu filho trocou mensagem de celular com o
piloto, que havia pedido autorização para fazer um frete em São Paulo.
Segundo ele, o piloto havia dito que receberia R$ 2 mil pelo serviço.
“Ele deu depoimento em que disse que meu filho não sabia absolutamente
nada”, declarou. “Aí ele vai para São Paulo, enfia 450 kg de cocaína.
Chegou ao Espírito Santo e, graças a Deus, esses bandidos estavam sendo
monitorados pela Polícia Federal”, relatou o senador.
Segundo o senador, seu filho não mudou a versão sobre o episódio em
nenhum momento. “O Gustavo quis dizer que não autorizou o frete para o
Espírito Santo. Para São Paulo, desde o primeiro momento, ele disse que
autorizou. Os maldosos dizem que ele, primeiro, disse que não autorizou.
E depois admitiu que autorizou”, retrucou.
O senador também reclamou de ter sido apontado como dono da fazenda
no Espírito Santo onde a droga foi apreendida há dez dias. “O delegado
disse que a fazenda não nos pertencia, mas que não poderia revelar os
nomes para não atrapalhar”, afirmou. Segundo o senador, veículos de
comunicação informaram que a fazenda era de propriedade da família
Perrella.
Cota parlamentar
O pedetista também negou haver irregularidade no uso de dinheiro
público na compra de combustível para o helicóptero. Segundo Perrella,
tanto ele quanto o filho fizeram uso legal da cota parlamentar. “Temos
nossa verba indenizatória, que pode ser usada para comprar passagem
aérea e abastecer aeronave, dentro da cota que nós temos para atividade
parlamentar. Meu filho usou durante o ano inteiro R$ 14 mil para
abastecer. O último ressarcimento que ele teve foi em outubro. Sugeriram
que esse voo da droga, esse voo maldito, foi feito com dinheiro
público. Eu como senador já abasteci também. Usei R$ 14 mil o ano
inteiro, podia usar R$ 20 mil por mês. Se tiver errado, que se mude o
regimento”, afirmou.
O senador vinha sendo cobrado publicamente até por aliados para que
falasse sobre o assunto. Até então, apenas seu filho Gustavo e o
advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, haviam se
manifestado. Pré-candidato à Presidência e amigo de Perrella, o senador
Aécio Neves (PSDB-MG) chegou a dizer que o colega tinha de explicar o
episódio. “Temos de lhe dar o direito de resposta, e é preciso que
rapidamente isso seja esclarecido”, afirmou Aécio no último sábado (30).
Fonte:UOL
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