Após uma reunião familiar feita no fim de semana, os pais da jovem cujo enterro foi alvo de um imbróglio judicial desistiram
de tentar sepultar o corpo dela em jazigo erguido em terreno da casa
onde moram, na cidade de Santo Antônio do Monte (a 180 km de Belo
Horizonte), em Minas Gerais.
O engenheiro Daniel Rodrigues
Silva, 41, pai de Bianca Rodrigues Silva, morta em um acidente de carro
no dia 11 deste mês, informou ao UOL nesta
segunda-feira (26) que o corpo da filha permanecerá no cemitério local e
não haverá recurso contra a decisão da juíza Lorena Teixeira Vaz Dias.
Ela havia determinado, na semana passada, a retirada do corpo do jazigo
domiciliar e o retorno para o cemitério da cidade, onde havia sido
enterrado logo após o acidente. Em nove dias, a jovem teve três
enterros.
No entanto, Silva afirmou que vai discutir a
possibilidade de uma ação contra o Estado. Segundo ele, a intenção é
mostrar que a magistrada não poderia proibir o sepultamento no local
preparado pelos pais, que tinham obtido da prefeitura e de um delegado
da Polícia Civil a permissão para realizar o enterro da filha em casa.
Segundo ele, a ideia era trazer conforto espiritual à família e atender
a um pedido de Bianca, que havia relatado à irmã o desejo de ser
enterrada perto dos familiares.
"Não vamos mais mexer nessa
questão de remover o corpo dela e trazê-lo para casa. Agora, a gente vai
ver o que se pode fazer contra o Estado. A juíza não se baseou em
nenhuma lei para fazer o que fez e há exemplos de pessoas que foram
enterradas nos terrenos das famílias. Vamos ver o que é cabível no
caso", afirmou.
O engenheiro disse que a família está muito transtornada com a perda da filha e espera pôr um ponto final na história.
"A gente já está sofrendo muito com a perda dela, perder um filho é a
coisa mais terrível do mundo. Você pode perder dinheiro, casa, um braço,
um perna, mas perder um filho é uma dor tremenda", declarou.
Jazigo
O engenheiro afirmou que não vai desmontar o jazigo construído no
terreno de sua casa e onde o corpo da filha permaneceu por alguns dias
antes de ser retirado e levado para o cemitério municipal. "Vou deixar
do jeito que está."
Em sua decisão, a juíza afirma que a
exumação de um cadáver somente poderia ser feita com autorização
judicial e atribuiu a ação da família a um forte impacto emocional.
Segundo a magistrada, a atitude dos pais coloca em risco a saúde
pública e da própria família ao manter o cadáver em local considerado
por ela como inadequado.
No despacho, a juíza disse ainda que o
delegado e o secretário da prefeitura, que deram o aval, não detêm
legitimidade para tomar a decisão e ainda considerou que o ato deles
poderia ser interpretado como criminoso. Ela frisou que a decisão visava
vedar a abertura de precedentes (outras famílias poderiam seguir o
exemplo dos pais de Bianca).
A assessoria da prefeitura havia enviado uma nota ao UOL na qual reproduziu a versão para o caso dada pelo secretário de Administração, Antenógenes Antônio da Silva Júnior.
Conforme o texto, Silva Júnior foi quem deu a autorização do traslado
do corpo para a casa dos pais da jovem "com base em autorização prévia
da Polícia Civil".
O secretário ainda disse que foram feitas
pesquisas e "mediante toda documentação apresentada pela família
peticionária e entendendo não haver qualquer ilegalidade ou
irregularidade, é que eu outorguei tal autorização, sem qualquer
intenção de dolo, visando apenas minorar e minimizar a dor de uma
família". O delegado não foi localizado.
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