São Paulo (AE) - Paulo VI será
beatificado em 19 de outubro por um milagre ligado à causa pró-vida. A
Congregação para a Causa dos Santos reconheceu ontem que o nascimento
sadio de uma criança, cuja mãe enfrentou graves problemas na gestação e
foi aconselhada por médicos a abortar, ocorreu após a intercessão de
Giovanni Battista Montini, o papa progressista que concluiu os trabalhos
do Concílio Vaticano II, que reformou a Igreja. O caso teria ocorrido
em 2001 nos Estados Unidos. Segundo Antonio Marrazzo, postulador da
causa, “a criança nasceu sem problemas e os médicos consideraram seu
nascimento um feito verdadeiramente extraordinário e sobrenatural.”
Arquivo VaticanoPaulo VI, o papa da encíclica Humanae Vitae, condenava o aborto e os métodos artificiais de contracepção, como a pílula
Paulo
VI é ainda o papa da encíclica Populorum Progressio (Progresso dos
povos), na qual defendia o acolhimento dos desvalidos, a divisão das
terras e o imposto sobre grandes fortunas. Dizia haver chegado “a hora
da ação” para os católicos Estes deviam mudar a realidade injusta dos
países subdesenvolvidos, o que estimulou na América Latina a leitura dos
Evangelhos dos teólogos da libertação.
Mas Montini também foi o
papa da encíclica Humanae Vitae (Sobre a Vida Humana), de 1968, que
condenou o aborto e os métodos artificiais de contracepção, como a
pílula. “Ele foi crucificado em vida por causa desse documento. É
emblemático esse milagre. De fato, Paulo VI tenderá a ser visto como um
santo pró-vida”, disse o professor de Teologia e diretor do Núcleo Fé e
Cultura da Pontifícia Universidade Católica (PUC), Francisco Borba
Ribeiro Neto.
Após as reformas dos anos 1960, como a da liturgia
- com a missa nas línguas nacionais em vez do latim -, a Humane Vitae
foi um marco. “É quando a opinião pública se dá conta de que o corpo
central do magistério da Igreja não seria mudado”, disse Borba. Era uma
reação à ideia de que só haveria vida a partir do momento em que o feto
fosse capaz de viver de forma autônoma, fora do útero materno. A
consequência é que, se o feto não tem vida, não haveria razão para
proibir o aborto.
“Ele (Paulo VI) foi tremendamente corajoso”,
afirmou o capelão do Mosteiro da Luz, José Arnaldo Juliano dos Santos. O
milagre de Paulo VI ocorreu nos Estados Unidos, em 2001, país onde o
aborto foi legalizado em 1973 pela Suprema Corte. A mãe estava no quinto
mês de gestação quando médicos disseram que o feto teria graves
problemas e podia até morrer. Depois, não souberam explicar o nascimento
sadio do menino. Após a beatificação, Montini deve ser canonizado, a
exemplo dos papas João XXIII e João Paulo II.
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