Ciro Marques
Repórter de Política
A prova de que a reunião ocorreu nas dependências da Câmara Federal
foi a imagem enviada pela assessoria de imprensa do presidente da
Casa/pré-candidato ao Governo do RN. É possível ver, comparando a foto
enviada a outras já apresentadas pela própria assessoria, que a sala é a
mesma que foi, por exemplo, usada por Henrique para receber o
presidente da Associação dos Municípios do Litoral e Agreste Potiguar
(Amlap), Fabiano Teixeira – prefeito de Serrinha.
Por isso, com o fato, Henrique acabou repetindo o criticado ato da
presidente da República Dilma Rousseff, do PT. Em março, ela e o
ex-presidente Lula se reuniram no Palácio da Alvorada para discutir, com
marqueteiros, a campanha eleitoral que se aproxima. “A residência
oficial da Presidência da República foi transformada em uma extensão do
diretório do PT, em Brasília: a presidente Dilma Rousseff convidou seus
principais conselheiros, entre eles o ex-presidente Lula e o marqueteiro
João Santana, para debater os rumos de sua campanha à reeleição, a
montagem de palanques e as chapas do partido nos Estados”, afirmou o
jornalista Reinaldo Azevedo, da Revista Veja, em uma das críticas
recebidas pela presidente pelo ato.
No caso de Henrique e do PTB, além da foto e da discussão eleitoral
em si, os envolvidos ainda deram uma “rápida entrevista” para os
jornalistas presentes (conforme retratou o release enviado pela
assessoria de imprensa do peemedebista) e comentaram a oficialização da
aliança, o que confirmou o perfil da Câmara não só como comitê
eleitoral, mas também como local para eventos e entrevistas coletivas.
E na fala ressaltada pelos envolvidos, destaca-se, apenas comentários
de cunho político-eleitoral, tanto com elogios a Henrique, quanto ao
pré-candidato a deputado estadual e presidente estadual do PTB, Aldair
da Rocha. Este, que até bem pouco tempo era secretário de Segurança
Pública do Governo Rosalba, ressaltou que a reunião foi marcada para o
dia 14 de maio, justamente, porque a data significa o aniversário de 69
anos do partido.
“Escolhemos esse significativo momento para revelar o entendimento de
que, para nós, o melhor caminho a trilhar no Rio Grande do Norte é
acompanhar as pré-candidaturas do deputado Henrique Eduardo Alves para o
governo e a da ex-governadora Wilma de Faria, para o Senado Federal”,
afirmou Aldair da Rocha.
Para quem ainda tem dúvidas de que a discussão foi puramente
político-eleitoral, destaca-se: em nenhum trecho do release enviado pela
assessoria do presidente da Câmara se fala de algum pleito apresentado
pelo atual vice-presidente do Banco do Brasil (e presidente nacional do
PTB), Benito Gama, ou por Aldair da Rocha. Se tivesse existido isso,
talvez se justificasse o encontro na Câmara Federal. Como não houve, há
ilegalidade, por se repetir a condição do encontro de Dilma Rousseff.
“É aceitável que a presidente receba políticos na sua casa, mas não
que transforme o lugar num comitê partidário. O objetivo da reunião era
tratar da campanha eleitoral de 2014, principalmente a de Dilma, mas
também debater o panorama nacional, as alianças do PT, etc”, apontou
Reinaldo Azevedo.
“Se querem a evidência de que se trata de uma irrealidade, recorramos
a uma espécie de legislação comparada. Se Dilma decidisse montar lá um
comitê de campanha a Justiça Eleitoral mandaria fechá-lo, por que isso
ainda é proibido. Como pode então usar uma edificação pública com essa
finalidade, ainda que parte do lugar lhe sirva de residência? E cumpre
notar, ali é a residência da presidente Dilma Rousseff. Ocorre que quem
comandou ontem a reunião foi a candidata Dilma Rousseff”, acrescentou o
jornalista da Veja. E, destaca-se, o presidente da Câmara Federal sequer
mora na sede da Casa.
O fato de Henrique Eduardo Alves ter utilizado a sede da Câmara
Federal para uma reunião político-eleitoral, mais do que uma conduta que
poderia render repreensões morais, pode significa também improbidade
administrativa e conduta vedada, significando abuso de poder. A
informação é baseada em análise de juristas sobre o assunto. Segundo
eles, os artigos infringidos são o 11 da Lei de Improbidade
Administrativa (Lei 8429/92) e o 73 da Lei das Eleições (Lei 9504/97),
condição de pré-candidato ao Governo do atual presidente da Câmara.
No que diz respeito a improbidade administrativa, o artigo 11 afirma:
“Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os
princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole
os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às
instituições”. E, ao utilizar um prédio público para um interesse
pessoal, ou seja, discutir alianças da campanha dele, Henrique teria
atentado contra esses princípios.
É bem verdade que esse artigo ainda rende interpretações. Contudo, o
artigo 73 da Lei Eleitoral é direto ao apontar a ilegalidade praticada
pelo presidente da Câmara. “São proibidas aos agentes públicos,
servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade
de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais: I – ceder ou
usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens
móveis ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da
União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos
Municípios, ressalvada a realização de convenção partidária”, aponta a
matéria.
E não é só. Também poderia ser incluído na irregularidade o
descumprimento aos incisos II do mesmo artigo, “usar materiais ou
serviços, custeados pelos Governos ou Casas Legislativas, que excedam as
prerrogativas consignadas nos regimentos e normas dos órgãos que
integram”; inciso IV “ceder servidor público ou empregado da
administração direta ou indireta federal, estadual ou municipal do Poder
Executivo, ou usar de seus serviços, para comitês de campanha eleitoral
de candidato, partido político ou coligação, durante o horário de
expediente normal, salvo se o servidor ou empregado estiver licenciado”.
Motivo: Rodolfo Stuckert é funcionário da Casa Legislativa. (CM)
Se perguntassem no início da semana qual seria o destino do PTB na
disputa eleitoral deste ano, a respostaria seria uma só: o apoio ao
pré-candidato ao Governo, Robinson Faria, do PSD. Isso porque, após
ficar ao lado do vice-governador do Estado na eleição suplementar de
Mossoró, realizada no início do mês, o presidente estadual do PTB,
Aldair da Rocha, participou de diversos encontros e ações pessedistas,
justamente, ao lado de Robinson. A aliança entre os dois era dada como
certa.
Além disso, ressalta-se que juntar PTB e PMDB no mesmo palanque
significava (e ainda significa) reunir o deputado estadual Ezequiel
Ferreira, hoje no PMDB, e Benito Gama, atualmente presidente nacional do
PTB. Os dois, para quem não lembra, viveram uma guerra de declarações
negativas em 2012, quando Ezequiel foi retirado por Benito da
presidência do PTB no RN e acabou deixando o partido por “justa causa”.
“Eu prefiro sempre acreditar nas palavras das pessoas, até que me
decepcionem. Benito Gama mente e mente insistentemente. Nunca na
história política desse estado se substituiu um presidente por alguém de
fora, sempre foi alguém que é daqui, que tem conhecimento com as
lideranças. O gesto de Benito foi agressivo e traiçoeiro”, afirmou
Ezequiel durante a crise de relacionamento com o líder petebista.
O parlamentar, inclusive, foi apoiado por boa parte dos companheiros
de Assembleia Legislativa, que criticaram duramente a passagem de Benito
Gama no RN, pela pouca produtividade e resultados apresentados por ele
no período em que geriu a Secretária Estadual de Desenvolvimento
Econômico (SEDEC). Chegaram até a dizer que uma dos únicos atos efetivos
dele no Estado foi, justamente, tirar Ezequiel do PTB, pelas críticas
que o parlamentar fazia a gestão estadual de Rosalba Ciarlini.
Na época, relembra-se, o deputado Walter Alves (PMDB), disse que
estava falando em nome do ministro da Previdência Social, Garibaldi
Alves Filho (PMDB), e rechaçou a forma truculenta em que a destituição
ocorreu e repassou o sentimento de solidariedade. “Se o PTB não o quer, a
gente convida o senhor para participar do PMDB”, disse.
Em resposta, Benito Gama disse que “essa é uma discussão interna
corporis, não tem nada que os outros deputados estarem se metendo”.
“Ezequiel havia dado a palavra de que resolveria a questão de Mossoró e
não fez. Veja que nós (o PTB nacional) liberamos ele em 166 municípios,
mas em Mossoró, município da governadora, pedimos que ficasse no
palanque e ele não cumpriu a palavra”, disse o ex-secretário de Rosalba
Ciarlini.
Agora, passado dois anos dessa discussão, Benito, Ezequiel, Walter e
Garibaldi, pelo menos, estarão juntos para apoiar Henrique. Nada demais
para um palanque que já deverá contar com antagonistas como Wilma de
Faria (candidata ao Senado pelo PSB) e o senador José Agripino
(presidente nacional do DEM). (CM)
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