O Brasil deverá ganhar em breve 30 novos santos de uma vez só. O
arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, pediu ao papa Francisco que
canonize logo dois padres e 28 fiéis que foram massacrados em Cunhaú e
Uruaçu, no Rio Grande do Norte, por tropas a serviço dos calvinistas em
1645, durante a ocupação holandesa.
“O papa manifestou interesse na canonização, que poderá ser feita por
decreto, sem exigência de milagres, porque os mártires foram mortos por
confessarem a fé católica”, disse Dom Jaime após uma audiência com
Francisco em Roma. O arcebispo informou que o papa confirmou seu
interesse em conversa com o cardeal d. Cláudio Hummes, prefeito emérito
da Congregação para o Clero.
Os mártires de Cunhaú e Uruaçu foram beatificados por João Paulo II
em 2000, na Praça de São Pedro, no Vaticano, com a presença de cerca de
mil brasileiros. O papa chamou os novos beatos de protomártires e
afirmou que eles eram um exemplo de fé cristã e defensores da fé
católica.
“Consta, pelos relatos da época, que foram assassinadas mais umas 70
pessoas, mas a Congregação para as Causas dos Santos só reconhece o
martírio daqueles cujos nomes foram identificados”, disse o arcebispo de
Natal.
Os massacres ocorreram em 15 de julho de 1845 em Cunhaú, atualmente
município de Canguaretama, e no dia 3 de outubro, em Uruaçu, município
de São Gonçalo do Amarante. Além dos padres André de Sandoval e Ambrósio
Ferro, foram massacrados 28 leigos, cujos nomes são conhecidos.
Os massacres foram executados por índios tapuias e potiguares e
tropas holandesas, sob o comando de Jacob Rabbi, um alemão violento e
sanguinário contratado pela Companhia das Índias Ocidentais Holandesas.
Os mártires de Cunhaú foram mortos num domingo durante a missa celebrada
pelo padre Ambrósio Ferro. Após a consagração da hóstia e do vinho, os
soldados holandeses trancaram as portas da igreja e, a um sinal de
Rabbi, os índios tapuias chacinaram os fiéis.
Com a notícia das atrocidades em Cunhaú, o medo se espalhou pelo
território do Rio Grande do Norte e capitanias vizinhas. Com razão,
porque outra vez sob as ordens de Jacob Rabbi um grupo calculado em 80
pessoas, entre as quais padre André de Soveral, foi massacrado.
Emissários do governo holandês enviados para investigar os massacres
constataram a prática de violência, atrocidade e crueldade.
A história dos massacres foi pesquisada na Torre do Tombo, em
Portugal, e no Museu de Ajax, na Holanda. “Segundo documentos sobre o
episódio, os holandeses sob o comando de Jacob Rabbi ofereceram aos
católicos a opção de salvar a vida, se eles se convertessem aos
calvinismo, mas eles se recusaram”, disse o padre Júlio César Souza
Cavalcante, da Arquidiocese de Natal.
Os relatos são contraditórios e parciais, o que dificultou a apuração
da história para a beatificação e canonização. O martírio dos católicos
coincidiu com uma de revolta de brasileiros e portugueses contra as
ocupação holandesa. O papa recomendou que a Congregação para as Causas
dos Santos dê andamento ao processo para depois ele assinar o decreto
que vai declarar santos os 30 mártires do Rio Grande do Norte.
D. Jaime levanta a hipótese de a canonização ser feita em outubro de
2017, quando Francisco pretende vir ao Brasil por ocasião da comemoração
dos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida nas águas
do Rio Paraíba. Se o papa não puder ir ao Rio Grande do Norte, como
seria desejável, a cerimônia poderia ser feita no Vaticano, em outra
data.
Com informações do Estadao Conteudo.
Com informações do Estadao Conteudo.
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