Agência O Globo
Após rebeliões que causaram a morte de mais de 130 presos, ao menos
oito estados brasileiros entraram em alerta — quatro deles com efetiva
transferência para tentar evitar confrontos entre facções rivais que
dividem espaço nos seus sistemas penitenciários. Autoridades locais
afirmam que, além da troca de presos nas penitenciárias, foi reforçada a
segurança e aumentou-se a cobrança de investimento por parte do governo
federal.
Desde o início do ano, 2.003 presos de Acre, Ceará, Rondônia e
Alagoas foram enviados para outras prisões. Grande parte das
movimentações foi feita no Ceará. Logo após a morte de 60 presos no
Amazonas, o estado determinou a transferência de 930 pessoas.
A Secretaria de Justiça do Ceará informou que as mudanças ocorreram
entre unidades da Região Metropolitana de Fortaleza para “adequação de
regime e prevenção de conflitos”. Ao menos três presos morreram em
penitenciárias cearenses este ano. As investigações, em andamento, não
confirmam participação do crime organizado.
Em Alagoas, o temor de conflitos fez o estado movimentar 1.020 presos
entre domingo e segunda-feira e pedir a transferência de 20 detentos
identificados como chefes de facções para penitenciárias federais.
“Queremos evitar mortes e conflitos no sistema prisional devido a
essa guerra declarada de facções criminosas que assola o país”, disse o
secretário de Ressocialização, Marcos Sérgio de Freias, em nota.
O Acre afirma ter reforçado a segurança nas penitenciárias após
rebelião em outubro de 2016, também motivada pela briga entre facções
criminosas com origem no Rio e em São Paulo, que causou a morte de
quatro presos. Neste ano, foram transferidos 15 detentos para cadeias
federais.
Outro estado que fez transferências foi Rondônia, onde 38 pessoas
foram para outras penitenciárias. O estado diz ter contratado mais
agentes e reforçado a segurança no sistema penitenciário.
Mesmo que não tenham feito transferências de presos, estados onde
investigações recentes e relatórios do serviço de inteligência do
governo federal revelaram possibilidade de confronto entre facções
nacionais e locais esboçaram alguma reação. O Piauí pretende mandar de
volta para os estados de origem alguns dos presos que estão nas suas
cadeias.
A Paraíba reforçou o patrulhamento na divisa com o Rio Grande do
Norte nos últimos dias. O governo do Maranhão informou que reforçou a
segurança, “por meio de revistas diárias nas celas, pavilhões e
pessoal”. No Mato Grosso, o governo anunciou um plano que envolve a
ampliação no número de vagas.
Para o sociólogo Rodrigo Azevedo, professor da PUC-RS e membro do
Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Estado demorou a agir para
evitar que os confrontos começassem. Segundo ele, a ruptura entre PCC e
CV já se desenhava há seis meses. Apesar disso, isolar grupos rivais é
importante emergencialmente.
“O Estado demorou muito para agir tanto em nível federal quanto
nesses estados onde o conflito é mais explícito. Houve uma demora em se
dar conta de um problema que era evidente que em algum momento sairia do
controle. Já estão fazendo isso (transferindo presos) um tanto
atrasados”, disse.
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