Passadas pouco mais de duas semanas do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, que já contabiliza 165 mortos,
o perfil das buscas pelos desaparecidos começa a mudar, ficando mais
dependente de máquinas pesadas para escavar em áreas muito profundas.
Segundo o último balanço da Defesa Civil, divulgado neste domingo, 10,
160 pessoas ainda estão desaparecidas. Mas agora encontrar corpos ou
segmentos vai ficando mais difícil. O capitão do Corpo de Bombeiros de
Minas Leonard de Castro Farah explica que os primeiros corpos a serem
achados estavam mais na superfície, o que permitia encontrá-los
visualmente, "mas agora é preciso escavar, tirar tudo o que tem embaixo e
procurar", diz.
A área da mancha inundada tem cerca de 3,96 km² e 10 km lineares, mas
alguns corpos foram achados além da mancha, no Rio Paraopeba. Segundo
Farah, os trabalhos foram divididos em diversos quadrantes de 40 mil m²,
o equivalente a quatro campos de futebol. E cada quadrante foi dividido
por quatro, ou seja, as buscas de cada equipe se concentram de cada vez
em uma área de um campo de futebol.
"Na primeira fase as buscas
foram mais superficiais, de pessoas e corpos resgatados que estavam na
superfície. A nova fase agora é de fazer escavação, levando em conta
várias questões: onde será colocado o rejeito retirado, se ele está
fluidificado (com água) ou não. Se está, não dá para tirar com máquina",
explica.
A atuação das máquinas está concentrada no local onde
ficava a usina intensiva de tratamento de minério (ITM), nos setores
próximos ao refeitório e ao clube e nos remansos que se formaram com a
passagem da onda de rejeitos. "Mas na área da comunidade Parque da
Cachoeira ainda está com muita água no terreno, e no leito do rio de
lama que foi criado. Por isso ainda não estamos entrando lá. Estamos
drenando essa água para que fique mais fácil fazer buscar", diz.
Um
dos objetivos da nova fase é restabelecer os acessos da cidade,
retirando a lama para a mineradora destiná-la em outro lugar. "Isso
exige um plano de manejo de rejeito, que envolve várias etapas: fazemos a
escavação, um militar confere o local para ver se não tem nenhum corpo
ali, um caminhão basculante leva para outro lugar, espalha todo o
rejeito, militares novamente conferem se não ficou nada ali, levam os
cães para certificarem. A mineradora só vai destinar esse material a
partir do momento que for descartada a possibilidade de haver corpos
ali", explica.
O trabalho, porém, está longe de ser todo
mecanizado. "Quando encontramos alguma máquina sob a lama, por exemplo, é
preciso parar. Porque se tem máquina, a chance de encontrar um corpo
dentro é grande. Então deixamos de usar maquinário porque não queremos
danificar um possível corpo e o trabalho volta a ser manual", afirma.
Segundo
ele, é feito um trabalho investigativo antes do uso dos equipamentos,
mas como alguns pontos têm dez metros de lama, fica mais difícil ter
certeza. "Através da dinâmica do fluxo a gente vai entendendo algumas
coisas. Por exemplo, no refeitório havia uma escada gigante, eu sei onde
ela foi parar, então a tendência é que tudo o que estava no refeitório
pare aqui, a tendência dos carros no estacionamento é parar ali",
explica, mostrando o mapa com a mancha da lama.
O trabalho de
investigação em campo é manual, com a ajuda de um "bastão de tato" - uma
barra de cobre ou de madeira usada para perfurar o solo em 2 metros a
2,5 metros. "A gente consegue sentir se bateu num metal ou num sofá. E
isso também ajuda os cães, porque cria um 'cone de odor'", diz.
Farah não se arrisca a dizer quanto tempo isso tudo vai levar nem se
há alguma previsão de fim de buscas. "O que queremos é dar conforto para
todas as famílias", afirma.
Com informações do Estadao
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