segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Limusine comunista forrada de ouro, joias e seda transportou Bolsonaro pela China

Modelo Hongqi L5 foi usado para transportar o presidente Bolsonaro pela China. (Foto: Reuters/ Divulgação)
Nos três dias em que esteve em Pequim, além da experiência de passar em revista as estrelas vermelhas do uniforme do Exército de Libertação Popular, o presidente mais “anticomunista” da história recente do Brasil circulou dentro de uma das principais peças de propaganda do governo do gigante asiático.
Produzido pela estatal First Automobile Works (FAW), mais antiga montadora de veículos do país, o Hongqi L5 tem ar vintage porque remete ao modelo mais icônico da marca, criado em 1958 para fazer frente às limusines Rolls-Royce e Bentley exibidas em filmes de Hollywood e se tornar símbolo de prosperidade e do alto escalão do Partido Comunista chinês.
Chamado de CA770, o modelo foi usado por Mao Tse Tung, em 1972, na lendária recepção ao então presidente americano Richard Nixon, em Pequim. A visita é um marco histórico porque resultou no reestabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países após 25 anos de isolamento.
O CA770 deixou de ser produzido em 1981 e, desde 2013, o L5 o substitui como ferramenta importante de ostentação do poder chinês frente aos luxos das principais potências capitalistas ocidentais.
Seda, ouro e jade
Foi a bordo do Hongqi L5 que Bolsonaro foi e voltou para a Praça da Paz Celestial, onde foi recebido com as mais altas honras de Estado pelo presidente chinês; para o seminário de negócios Brasil-China, que abriu convidando investidores chineses para o megaleilão do pré-sal; e para a Muralha da China, onde caminhou e tirou fotos com turistas.
Em chinês, Hongqi significa Bandeira Vermelha — o símbolo maior do comunismo. Hoje, o modelo usado por Bolsonaro é o carro oficial de Xi JinPing, que acumula as funções de líder maior do Partido Comunista Chinês, chefe do Exército e presidente do país.
É também o veículo de passeio mais caro à venda na China: custa 850 libras esterlinas, ou 4,3 milhões de reais. O preço reflete a ostentação encontrada dentro e fora do veículo.
No exterior, a principal marca do carro é uma escultura metálica vermelha em formato de bandeira estendida no capô, entre os faróis (no mesmo local em que a Mercedes, por exemplo, coloca sua tradicional estrela). Os pisca-piscas nas laterais do carro têm o mesmo formato.
Forrada de couro, madeira e seda chinesa, a cabine tem pedras preciosas nas maçanetas das quatro portas.
Segundo a empresa, estas pedras de jade têm linhas que formam a imagem de “nuvem e dragão”, simbolizando “identidade e virtude”. Elas são esculpidas seguindo a proporção áurea.
Além de ostentar girassóis de ouro no volante e nas rodas, o carro tem encostos de cabeça nos bancos desenhados a partir do formato dos chapéus usados pela antiga dinastia Tang, que governou a China do ano 618 ao ano 907.
Os bancos onde Bolsonaro se sentou na limusine chinesa têm função massagem e podem ser aquecidos ou resfriados, ao gosto do freguês — normalmente, apenas autoridades chinesas ou Chefes de Estado com relações políticas ou econômicas relevantes como a China, como é o caso do Brasil, cujas trocas comerciais com o país chegaram a 100 bilhões de dólares no ano passado.
“Não parece certo sentar em um carro estrangeiro”
O primeiro presidente estrangeiro a circular pela China a bordo de um Hongqi L5 foi o ex-presidente francês François Hollande, em abril de 2013, durante uma visita oficial ao país para concretizar a venda de 60 airbuses para os chineses.
Em 2012, segundo jornais chineses, Xi Jinping disse, em discurso na sede do Partido Comunista, que autoridades da China devem usar limusines chinesas.
Depois de ter sido visto no exterior a bordo de Cadillacs e Mercedes, Xi Jinping passou a levar Hongqi para usar em suas visitas. A primeira vez foi na Nova Zelândia, em 2014. Pouco antes da visita de Bolsonaro, em 12 de outubro deste ano, Xi JinPing foi à Índia e também levou a limusine chinesa.
“Não parece certo sentar em um carro estrangeiro”, disse o presidente, segundo reportagem do South China Morning Post.
“Muitos líderes estrangeiros usam limusines feitas em seus próprios países, a não ser que eles não as tenham.”
Pesando mais de 3 toneladas, com 5,5 metros de comprimento e pouco mais de 2 metros de largura, o carro é capaz de acelerar de 0 a 100 quilômetros por hora em 8 segundos.
A velocidade máxima, segundo a montadora, é de 210 quilômetros — muito mais do que a comitiva de Bolsonaro foi capaz de chegar em meio ao trânsito caótico de Pequim nos três dias de visita oficial.

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