RIO - Além de lidar com a perda para uma doença que não permite despedidas, parentes de vítimas da Covid-19 estão
tendo que, em meio à dor, negociar os custos dos sepultamentos. Embora a
Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário
(Abredif) oriente que sejam dados descontos de até 40% nos enterros de
mortos pelo novo coronavírus, uma vez que ocorrem em caixões lacrados e sem aluguel de capelas para velórios,
isso nem sempre vem acontecendo. Em funerárias do Rio, os valores
cobrados para serviços semelhantes num mesmo cemitério público, com
preço tabelado pela prefeitura, podem variar. Um funeral dos mais
simples, numa cova rasa, pode passar dos R$ 3,8 mil.
No meio da pandemia, existem até mesmo casos de serviços não
prestados, mas cobrados por funerárias, como atestou, em Duque de
Caxias, na Baixada, o cabeleireiro José Antonio Ricardo. Ele enterrou a
filha, a estudante Kamilly Ribeiro, de 17 anos, vítima mais jovem a
morrer com a Covid-19 no estado, no último dia 15, no Cemitério Nossa
Senhora de Fátima (também conhecido como Taquara), no Centro da cidade.
Pelo sepultamento, pagou R$ 2 mil a uma funerária, além de pouco mais de
R$ 800 ao cemitério, por conta de uma taxa de uso de solo. Um dia
depois, ao olhar a nota fiscal dos serviços, percebeu que as cobranças
incluíam despesas inexistentes, como ornamentação e véu.
O
cabeleireiro, então, voltou à funerária. Após reclamar, ouviu que havia
ocorrido um erro de digitação. Um novo documento foi expedido, mas sem
diminuição no preço cobrado anteriormente. Segundo o cabeleireiro, os R$
2 mil foram distribuídos em outros serviços, como o custo da urna, que
passou dos R$1.380 para R$ 1,7 mil:
— Minha filha foi enterrada
numa urna sem nada. Só tinha mesmo um invólucro que protege o corpo.
Quando reclamei, achei que fossem tirar alguma cobrança. Eu fiquei
indignado.
Já na capital, uma tabela publicada no Diário Oficial do município no
dia 11 de março estabeleceu os preços pelos serviços nos 13 cemitérios
públicos cariocas. Ontem, equipes do GLOBO telefonaram para dez
funerárias perguntando o preço de um funeral para uma vítima da Covid-19
numa gaveta no Cemitério de Inhaúma. Apesar de tabelado, o valor variou
de R$ 1.280, numa funerária de Irajá, a R$ 1.515,60 numa grande empresa
de assistência funerária.
O Globo
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