O cemitério de Tarumã é o único de Manaus, e já sofre com o excesso de mortes Foto: BRUNO KELLY / REUTERS
A disparada no número de mortes em Manaus já se reflete no cemitério Nossa Senhora Aparecida, mais conhecido como Tarumã.
Por concentrar a maior parte dos sepultamentos da cidade (os demais só
atendem em jazigos familiares), ele ficou sobrecarregado com a crise
causada pelo novo coronavírus. Com mais de 100 óbitos
por dia na capital desde a última terça, o local já não dá conta da
demanda. E as autoridades buscam meios de controlar a situação.
Um vídeo que circula pelas redes sociais mostra os carros de agências
funerárias formando uma longa fila para entrar no Tarumã. Como o
cemitério não consegue atender a todos os óbitos ao mesmo tempo, a
espera cresceu.
O presidente do Sindicato das Empresas Funerárias do Estado do
Amazonas, Manuel Viana, confirmou o quadro retratado no vídeo. Ele
admite que o número de mortes diárias cresceu acima das expectativas e,
por isso, a organização dos enterros escapa ao controle.
- Antes
do coronavírus, a média aqui era de 30 sepultamentos por dia. O setor
funerário tinha feito uma projeção de que estaríamos em abril com algo
em torno de 50 e poucos óbitos por dia. Mas só neste domingo morreram
122. Na terça da semana passada (dia 14) foram 102. Desde então, este
número só cresceu.
Para encontrar soluções, Manaus criou um comitê de crise para óbitos
formado por membros do setor funerário e das secretarias municipais da
Mulher, Assistência Social e Cidadania (Semasc) e de Limpeza e Serviços
Públicos (Semulsp), que inciaram os debates nesta segunda. A primeira
medida para tentar conter o caos no Tarumã é o aumento do número de
funcionários.
- Aí poderemos organizar os sepultamentos com uma velocidade maior.
Aquele tumulto foi na hora do intervalo para o almoço. Provavelmente já a
partir desta terça serão duas turmas fazendo um revezamento. Com isso,
não vamos ficar sem atendimento na hora do almoço - explica Viana.
O
primeiro indício de esgotamento veio justamente de um serviço da
prefeitura: o SOS Funeral, oferecido de forma gratuita a quem não tem
condições de arcar com os custos de remoção do corpo e com a taxa de
sepultamento. Com capacidade para até 20 óbitos por dia, ele atingiu o
seu limite na semana passada. A Prefeitura, então, recorreu às
funerárias particulares, que agora se revezam diariamente para suprir
esta ausência.
A Prefeitura de Manaus informa que instalou dois frigoríficos no
cemitério para o armazenamento dos corpos da fila de espera. Com isso, é
possível liberar os veículos da funerárias para a realização de novos
serviços, principalmente os do SOS Funeral.
Dezenas de novas covas
foram abertas na semana passada. Segundo a prefeitura, esta ampliação
já estava prevista. Mas a pandemia de Covid-19 antecipou a medida.
Nesta
segunda, a Secretaria Estadual de Saúde registrou mais três óbitos por
covid-19, totalizando 185 desde o início da pandemia. Só que, além da
defasagem nas confirmações, nem todos os casos chegam a ser testados.
Logo, as autoridades não conseguem contabilizar todos as mortes que
chegam ao Tarumã dia após dia.
Os números de mortes por insuficiência respiratória ou pneumonia
ajudam a ter uma noção da contabilidade real. Grande parte dos óbitos
que apresentaram sintomas de Covid-19, mas não foram testados, são
registrados com aquelas causas.
De acordo com o portal da
transparência do registro civil, que centraliza as informações passadas
pelos cartórios de todo o país, foram 381 óbitos no estado do Amazonas
por insuficiência respiratória até o dia 20 de abril. É o dobro do que
foi registrado neste mesmo período de 2019: 190.
Já os registros
de morte por pneumonia foram, até agora, 625. É bem mais do que as 376
contabilizadas de 1º de janeiro a 20 de abril de 2019.
Além disso, há as mortes por outros problemas que, mesmo sem relação com
a Covid-19, acabaram sendo impactadas pela crise do sistema de saúde.
Ou seja: pessoas que faleceram por falta de atendimento. A diferença do
número de mortes gerais mostra o tamanho deste problema. Até esta
segunda, foram 3.263 óbitos (por diversas causas) no Amazonas. Em 2019,
de janeiro a abril (logo, num período até maior do que o atual), foram
2.560.
- Quando alguém está contaminado com o vírus pode passar até 21 dias
internado. Então, você tem um prolongamento das ocupações dos leitos. E
isso faz com que a gente tenha óbitos não só de pessoas com Covid, mas
também daqueles com outros problemas e que não puderam receber
atendimento. Esta questão nós não tínhamos calculado - admite Manuel
Viana.
*Com informações O Globo
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