O presidente Jair Bolsonaro tem
sido aconselhado por auxiliares e parlamentares a ampliar sua "agenda
positiva" na relação com outros Poderes e substituir os ministros
Ricardo Salles, do Meio Ambiente, e Ernesto Araújo, das Relações
Exteriores. Embora contem com o apreço do presidente e do núcleo
ideológico, os dois são considerados problemáticos por integrantes do
próprio governo e vistos como entraves para o avanço de acordos
comerciais internacionais.
A condução da política ambiental de Salles é apontada como
um empecilho para acordos comerciais bilaterais e, até mesmo, para que o
País receba investimentos externos. Na semana passada, um grupo formado
por quase 30 fundos de investimento com US$ 3,7 trilhões exigiu que o
Brasil freie o crescente desmatamento no País.
Já o caso de
Ernesto Araújo, alinhado ao guru ideológico Olavo de Carvalho, é mais
delicado e o motivo é a necessidade de alguém mais pragmático à frente
do Itamaraty. Numa conversa neste fim de semana com um integrante do
Supremo Tribunal Federal (STF), um ministro de Bolsonaro disse que o
chanceler se inviabilizou na função, apesar de contar com o apoio dos
filhos do presidente. É a mesma situação do ex-ministro Abraham
Weintraub.
Nesta segunda-feira, 29, em uma reunião no gabinete da
Vice-Presidência, o governo discutiu a estratégia de reação às cobranças
internacionais. Está prevista para a próxima semana uma reunião com
integrantes de alguns dos signatários da carta que pediram um freio no
desmatamento. Além do vice Hamilton Mourão, de Salles e de Araújo,
participaram a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o presidente do
Banco Central, Roberto Campos Neto, e o presidente da Apex, Sérgio
Segovia.
Havia um grupo que defendia que Salles ficasse de fora da
conversa com investidores, mas a reunião nesta segunda definiu que o
ministro do Meio Ambiente participará e fará a defesa da agenda de
pagamento de serviços ambientais, enquanto que a Mourão caberá explanar
sobre o Conselho da Amazônia e as ações de fiscalização. Já ministra
Tereza Cristina defenderá a regularização fundiária, e Araújo falará das
relações comerciais envolvendo Mercosul e União Europeia.
As
queixas de parlamentares sobre a atuação de Salles e Araújo têm chegado
a Mourão. O deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), da Frente
Ambientalista, tem sido um porta-voz da insatisfação. "Ele (Salles)
perdeu credibilidade para estar à frente do Ministério do Meio Ambiente.
Foram vários pedidos de impeachment protocolados, inclusive da
sociedade civil. Já fez o Brasil passar vergonha demais. Está na
contramão da história, infelizmente", afirmou ele ao Estadão.
Também integrante da bancada ruralista e líder do Solidariedade na
Câmara, o deputado Zé Silva (MG) é outro que levou ao governo a
preocupação com o atual cenário. "Os sinais dos compradores do agro
brasileiro e do mercado financeiro acedem um sinal amarelo em relação à
administração das políticas ambientais do País", disse.
A Câmara
tenta acelerar a votação de projetos ambientais, diante de críticas
internacionais sobre a gestão do setor no governo brasileiro. A ideia é
dar sinais positivos para acalmar investidores estrangeiros,
principalmente do agronegócio.
Em um acordo entre ambientalistas e
ruralistas, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pautou para
essa semana a votação do Protocolo de Nagoya. "É o mais importante
regulamento da Convenção de Biodiversidade. O Brasil ajudou a escrever o
documento, assinou, mas nunca ratificou. Ficou parado de anos", afirmou
o deputado Rodrigo Agostinho.
Contrapartida
A
votação é uma das respostas do Parlamento sobre a questão ambiental. A
contrapartida seria a substituição de Salles. O ministro é alvo de um
pedido de impeachment feito por deputados. Desde sua fala revelada no
vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, em que diz querer
"aproveitar esse período de pandemia para passar a boiada" e simplificar
as normas ambientais por decreto, o incômodo com a permanência de
Salles no governo, por parte de empresários e da oposição, aumentou.
O
ministro se defende e diz que é normal haver críticas à uma postura
"mais econômica" sobre o meio ambiente. Segundo ele, a pasta tem "uma
visão muito clara de que é preciso dar valor econômico ao ativo
florestal brasileiro". "Trazer recursos financeiros para remunerar a
floresta em pé, os serviços ambientais e para ter instrumentos que
tragam prosperidade para as pessoas melhorarem de vida e com isso
respeitarem mais o meio ambiente", afirmou Salles.
Para o ministro, as críticas são algo normal. "Que vai haver pressão
política contra a visão do governo, contra essa postura mais econômica
de dar destinação sempre vai haver, a política é assim. É normal", disse
ele.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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