O valor a ser pago pelas águas do Rio São Francisco ainda está sendo
definido entre os quatro estados receptores das águas (Pernambuco,
Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte) e o Governo Federal. Há
divergência de entendimento entre os preços e ainda não há perspectiva
de quando isso será concretizado. O que já está certo é que o Estado
deverá ter um custo de R$ 69 milhões na adução (transporte) das águas.
“É
o assunto mais delicado. Os quatro estados da transposição tem um
consenso do valor da água, que é de R$ 0,93 m³. É impraticável. É um
valor que a ANA quem orienta o MDR, com suas composições, mas nós não
aceitamos esse preço. Estamos em consenso para baixar esse valor. O
ideal seria menos da metade. Esse projeto foi feito para beneficiar os
quatro estados e se a água chegar a um valor que ninguém possa pagar,
não vai se perder um projeto de R$ 12 bilhões. O preço da água precisa
ser algo que possa ser comportado pelos quatro estados”, disse o
secretário estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, João Maria
Cavalcanti.
“Temos que pagar uma taxa básica mínima,
porque os canais precisam ser mantidos cheios para não racharem, as
vigilâncias das bombas caríssimas. É um projeto que depende de
manutenção, independentemente se o Estado estar recebendo águas, toda a
equipe vai ter que estar lá. Não vai ficar lá abandonado e vamos ligar
só quando precisar”, explica Auricélio Costa.
Segundo o MDR, em
nota enviada à TN, a celebração dos contratos para prestação de serviço
de adução de água bruta está sendo conduzida no âmbito da Câmara de
Mediação e de Conciliação da Administração Pública Federal (CCAF).
“No
intuito de progredir na assinatura dos contratos, a União propôs
subsídio da tarifa através da assunção dos custos inerentes ao Fundo de
Reposição de Ativos, as Despesas Administrativas e Provisão de Devedores
Duvidosos, entre outros benefícios. O escalonamento da tarifa, onde a
União arcaria com 95% dos custos no primeiro ano, 85% no segundo, 65% no
terceiro e 35% no quarto ano, encerrando-se a participação da União no
quinto ano. Haveria a possibilidade de revisão do escalonamento no
quarto ano”, disse.
A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) também repercutiu o tema com a TRIBUNA DO NORTE.
“Ainda
está em negociação a assinatura dos contratos entre os estados
receptores e a operadora federal, que definirá os compromisso entre as
partes para viabilizar a operação do PISF, visto que atualmente o
sistema está em fase de testes e está sendo entregue água em alguns
pontos sem custos para os estados receptores”, disse a ANA em nota.
Água de cortesia
Segundo
o secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, João Maria
Cavalcanti, o RN terá direito a 160 milhões de m³ de água numa espécie
de “cortesia” acordada no passado com o Governo Federal. Essas águas
serão justamente as águas dos testes da transposição do Rio São
Francisco.
De acordo com o diretor do Instituto
de Gestão das Águas do Estado do Rio Grande do Norte (IGARN), Auricélio
Costa, o Rio Grande do Norte também irá pagar os custos das águas do
PISF. “Segundo a Resolução nº 67/2021, esses custos foram definidos da
seguinte forma: tarifa de disponibilidade de 0,264/m³, tarifa de
ligação, custo pelo estado estar ligado a transposição e o custo de
0,474/m³ tarifa de consumo, então como o estado tem uma outorga de
2,95m³/s durante todo o ano isso importaria num volume mínimo para o
estado durante o ano de 94.608.000 m³, volume esse que tarifado ao valor
de (0,264+,0,474 ) = 0,738/m³ daria um valor mínimo anual de R$
69.820.704,00”, calculou o diretor.PSIF
Segundo
o Governo Federal, o objetivo do PISF é levar água do rio São Francisco
a 12 milhões de pessoas em 390 municípios no Ceará, na Paraíba, em
Pernambuco e no Rio Grande do Norte, estados historicamente vulneráveis à
seca. O Projeto também visa a beneficiar 294 comunidades rurais às
margens dos canais. O empreendimento abrange a construção de 13
aquedutos, nove estações de bombeamento, 28 reservatórios, quatro
túneis, nove subestações de energia elétrica em alta tensão e 270
quilômetros de linhas de transmissão. O Eixo Leste passa por Pernambuco e
Paraíba, enquanto o Eixo Norte pode atender municípios de Pernambuco,
Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
No
Eixo Norte, as obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco
passam pelos seguintes municípios: Cabrobó, Salgueiro, Terra Nova e
Verdejante, em Pernambuco; Penaforte, Jati, Brejo Santo, Mauriti e
Barro, no Ceará; São José de Piranhas, Monte Horebe e Cajazeiras, na
Paraíba. Já no Eixo Leste, o empreendimento atravessa os municípios
pernambucanos de Floresta, Custódia, Betânia e Sertânia; e a cidade
paraibana de Monteiro.
Caminho das águas do São Francisco
Para
a chegada das águas ao RN, o último passo foi dado no final de outubro
de 2021, quando foi aberto o trecho final do Eixo Norte da transposição,
na Barragem de Boa Vista, em São José do Piranhas, município paraibano.
Do
estado da Paraíba, pela Barragem de Morros, seguindo para a Barragem
Boa Vista, ambos localizados em São José do Piranhas, o rio segue pelo
túnel Cuncas 2, desembocando no Reservatório Caiçara, que tem duas
tomadas d'água. A primeira abastece a Barragem Engenheiro Avidos, em
Cajazeiras (PB). De lá, segue pelo leito do rio Piranhas-Açu, que se
tornará um rio perene, e a segunda abastece o Ramal do Apodi. Por
gravidade, seguindo o curso do rio, a água chega ao Rio Grande do Norte,
primeiro à Barragem de Oiticica e, em seguida, ao Reservatório Armando
Ribeiro Gonçalves, em Assu.
O Ramal do Apodi é o
trecho final do Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São
Francisco e terá um total de 115,3 quilômetros de extensão. A água será
transportada por gravidade a partir do Reservatório Caiçara, na Paraíba,
até o Reservatório Angicos, já no Rio Grande do Norte. Esse Ramal vai
levar as águas do Eixo Norte a 54 municípios nos Rio Grande do Norte
(32), Paraíba (13) e Ceará (9), beneficiando 750 mil pessoas.
A
vazão é de 40 metros cúbicos (m³) por segundo até o quilômetro 26, de
onde deriva o Ramal do Salgado, que levará a água para o Estado do
Ceará. Após essa derivação, a vazão será de 20 m³ por segundo. Toda a
infraestrutura contará ainda com três áreas de controle, 23 trechos de
canais, com extensão de 96,7 quilômetros, sete aquedutos, oito rápidos e
um túnel.
TRIBUNA DO NORTE
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