Carlos CostaCobertura metálica de Centro Cultural veio ao chão devido ao vento
A
forte ventania antecedeu a chuva que durou 40 minutos. Informações
oficiais da Prefeitura Municipal de Angicos apontam entre 40 e 50
imóveis afetados pelo temporal. O fenômeno assustou a população da zona
urbana. Algumas testemunhas viram o que chamaram de “mini-tornado”
levantar telhados e arrancar árvores de grande porte. Vários moradores
afirmam ter visto o formato de um longo cone em espiral, de cor escura,
que por onde passou deixou um rastro de destruição. Os piores estragos
ocorreram entre os bairros Monsenhor Pinto e Alto da Cerâmica.O pluviômetro da Emparn instalado na cidade registrou 36,5 milímetros, considerada de intensidade forte pelos especialistas da Emparn em decorrência do curto intervalo de tempo.
A maioria das residências afetadas teve os telhados danificados ou, em alguns casos, pedaços da alvenaria arrancados. Imagens de satélite do CPTEC/INPE, disponibilizadas pela Emparn, mostram o acúmulo de chuvas e nuvens sobre a região central potiguar, onde está localizado o município de Angicos. A formação registrada por volta das 13h30 [hora local] chegou à região pouco depois da tradicional missa campal na zona urbana da cidade de Angicos, que todos os anos atrai centenas de agricultores e devotos de São José.
A cobertura metálica do telhado do Centro Cultural e Parque de Exposições Governador Aluízio Alves, no bairro Alto do Triângulo, foi quase que totalmente arrancada pela força dos ventos. O toldo, na parte frontal do prédio e parte da alvenaria do muro também foram afetadas. O prefeito de Angicos Clemenceau Alves diz que o clube, cuja cobertura foi parcialmente destruída pelo vendaval é uma obra que sequer foi entregue à população. “Havia solicitado à Caixa Econômica Federal o envio de técnicos para a inspeção que antecede a entrega da obra”, disse.
No centro da cidade, onde estão armadas as barracas de vendedores ambulantes e também tendas que abrigam os fiéis que acompanham as missas e procissão do santo padroeiro São José dos Angicos, o vendaval deixou destruição. Derrubou quase todas as barracas e tendas, arrastou máquinas e utensílios dos ambulantes.
Chorando, dona Rita Bezerra Rocha, 84, moradora da rua Alexandre Vesparziano, do Alto do Triangulo, diz que nunca viu algo dessa natureza. “Eu pensei que ia morrer, só não morri porque Deus é bom e me ajudou”.
À tarde, após a chuva, aqueles cujas residências foram afetadas pela ventania começaram o trabalho de reconstrução. Em várias partes da cidade, moradores reuniram a família para agilizar o serviço de recuperação dos telhados, temendo novas precipitações.
João Maria de Carvalho Neto, um dos moradores da rua José Medeiros Gonçalves (bairro Alto da Cerâmica), teve a casa seriamente avariada pela força dos ventos. “Tenho 50 anos de idade e nunca vi algo dessa natureza. Era um negócio alto, grande, e a gente pensou que ia morrer. Achei que não tinha mais jeito e me agarrei com minha mulher e meu filho, esperando pela morte. Graças a Deus que nada aconteceu com a gente, mas a minha casa foi quase toda destruída; muro no chão, telhado. Mas o que importa é a vida da gente, escapamos vivos, é o que importa”.
Emparn prevê mais chuva e ventania
Sinônimo de fartura para os devotos de São José, após o vendaval de ontem as chuvas transformaram-se também em motivo de preocupação para os moradores do interior do Estado. As chuvas e ventanias que ocorreram ontem e causaram destruição em Angicos poderão se repetir neste sábado e domingo. É o que aponta a previsão do tempo.
De acordo com o meteorologista da Emparn, Gilmar Bristot, a incidência de chuvas nesse período de março estava previsto para a região com a zona de convergência intertropical, fator que contribui para a formação das nuvens e precipitações. “Esse realmente é o período em que as chuvas começam a ser um pouco mais fortes nessa região do Rio Grande do Norte e elas devem continuar durante o fim de semana”, afirmou Gilmar Bristot.
PREVISÃO - As chuvas, no entanto, não deverão ser fortes em todo o Estado. O meteorologista afirma que as principais incidências serão nas regiões dos vales do Açu, do Apodi e na região das chapadas. Devido ao calor, o meteorologista também alerta para a possibilidade de ventanias semelhantes àquelas que destruíram telhados e barracas na praia de Barra do Cunhaú, litoral Sul, semana passada. “Alguns locais poderão ter raios e trovoadas e também fortes ventos, como os que ocorreram no litoral”, alertou o especialista da Emparn.
Gilmar Bristot explicou ainda:"Essas são chuvas típicas da estação chuvosa, normais para o mês de março. Não significa dizer que a previsão de inverno abaixo da média deve ser modificada. Março é o mês que, normalmente, há maior média de chuvas. E devem continuar até meados da próxima semana", disse o meteorologista.
Fiéis renovam esperanças no padroeiro de Angicos
A missa do padroeiro de Angicos, São José, marcou, ontem de manhã, um dia de esperança para os agricultores, que têm no 19 de março um divisor para o começo do inverno, imprescindível para quem vive numa região semi-árida. A celebração foi presidida pelo arcebispo metropolitano de Natal, dom Matias Patrício, para quem a ocasião tem um gosto especial: “Venho aqui todo ano”, disse ele, pois nasceu em Santana do Matos, mas se criou em Angicos. “Aqui cheguei aos cinco anos e aprendi o bê-a-bá”.
Além de dom Matias Patrício, participaram da homília, que começou às 9h30, o administrador paroquial de Angicos, padre Vicente Fernandes da Silva Neto e cinco párocos de municípios da região do Sertão Central do Rio Grande do Norte.
Às 6 horas da manhã foi celebrada a primeira missa do dia, presidida pelo padre Francisco das Chagas Pereira Pinto, enquanto às 15 horas é prevista a celebração da terceira missa do dia de São José presidida pelo vigário geral de Natal, Aerton Sales, e em seguida a realização da procissão pelas principais ruas da cidade. O encerramento das festividades do padroeiro de Angicos ocorre às 18 horas, com a última missa na matriz de São José.
Durante a liturgia, a leitura do Evangelho coube ao senador Garibaldi Alves Filho (PMDB) e ao prefeito do município, Clemenceau Alves. Outros políticos norte-rio-grandenses prestigiaram a missa campal do meio da manhã, na Praça Capitão José da Penha, como a deputada federal Sandra Rosado (PSB), os deputados estaduais Walter Alves, Nelter Queiroz, Poti Júnior (PMDB) e Márcia Maia (PSB), que representou a governadora Wilma de Faria (PSB) ao lado do secretário estadual do Trabalho e Ação Social, José Gercino Saraiva Maia e ainda o ex-prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves e prefeitos de municípios vizinhos a Angicos.
No meio da homília, dom Matias Patrício disse para os fiéis que se aglomeravam em frente ao palanque, que todos deviam “sair dali convencidos de que São José nos estimula ao encontro de Deus”.
A ocasião também levou fiéis ao pagamento das tradicionais promessas, todos vestidos de amarelo, que é a cor das vestimentas de São José, como Dalvanira Fonseca de Souza, que veio do sítio Mulungu, no município de Pendências, no Vale do Açu. “Todo ano a gente vem, faz dez anos”, disse ela, a respeito da promessa que fez para se curar das dores que sofria pelo corpo.
Severino Martins de França, 80 anos, chegou amparado pela mulher e parentes, porque sofre do mal de Parkinson e tem dificuldades de andar. “Vim colocar a oferta de São José para pegar um lugar melhor lá fora”, disse ele, diante do altar de São José.
Já Ana Raimunda da Silva diz que vai pagar a penitência, que não pode revelar, “até morrer”, mas vestida de amarelo, disse que vem para à missa assim há três anos.
Os celebrantes ainda pediram aos fiéis que rezassem pelas almas dos ex-prefeitos Zélias Alves e Jaime Batista e ainda pelo jovem Vágner Silva dos Santos, que morreu de acidente de carro na noite da quinta-feira, dia 18, na entrada de Angicos, cujo corpo foi velado na Câmara Municipal e enterrado à tarde no cemitério público municipal.
Afora o ato religioso, há quem aproveite os festejos de São José para ganhar algum dinheiro com peças de cunho religioso. Valclécio Pereira de Castro é de Juazeiro (CE) e sempre vem a Angicos vender escapulários, “com a volta de vários santos” que os fiéis pegam para benzer e que custa apenas R$ 1,00. Já uma fitinha, tipo aquelas do Senhor do Bonfim, com o nome do santo de devoção, é vendida por somente R$ 0,25. Uma das peças mais caras, o rosário de louça, é vendido a R$ 5,00.
Chuva tão esperada chegou na parte da tarde
De manhã, enquanto os fiéis sob um sol escaldante assistiam e participavam da missa em homenagem ao padroeiro do município de Angicos, São José, ninguém arredou o pé da Praça Capitão José da Penha. Uma dessas pessoas era o agricultor Joaquim Evaristo da Costa, 77 anos, que rezava para chegar chuva no Sertão. “Estou animado, porque só Deus sabe a hora que deve mandar chuva”, dizia ele, cujas preces foram, finalmente atendidas no começo da tarde de ontem, com a queda de água numa das regiões mais secas do Rio Grande do Norte.
O agricultor Evaristo da Costa disse que nasceu e se criou dentro da agricultura - “e vou morrer nela” - mesmo hoje tendo as aposentadorias de trabalhadores rurais – dele e da mulher – que rendem o sustento da família: “Ganhamos juntos R$ 1.020,00”.
Com a falta de chuva, ele disse que não deu para plantar nada até agora, mas o pior é a escassez de ração natural para os animais porque tem de investir parte do pouco dinheiro que ganha na compra de ração para o gado e os bodes que são criados no sítio Volta, a 18 quilômetros da zona urbana de Angicos. Em virtude disso, ele viu o seu rebanho ser reduzido de 160 cabeças de caprinos para apenas 30, enquanto o número de reses caiu de 60 para 25 cabeças. “Tive de vender duas vacas paridas para pagar a conta da ração no armazém”, disse ele, que vendeu cada vaca por R$ 1,5 mil.
Segundo ele, o leite que vende a uma cooperativa de laticínios sai por R$ 0,74, o que é insuficiente para cobrir os custos para a aquisição, por exemplo, da pasta, cujo preço é R$ 45,00 nos armazéns, enquanto a saca de milho custa R$ 24,00 e o farelo de trigo R$ 15,00. Ele conta ser essa a principal dificuldade para criar os animais, porque água nos açudes e barreiros tem suficiente: “Se chover dá para passar dois anos de seca”.
As chuvas tão aguardadas pelos agricultores, como Joaquim da Costa, só foram aparecer no dia de São José por volta das 13 horas de ontem. O céu ficou encoberto de nuvens carregadas por uma grande parte das regiões do Trairi, Potengi e Sertão Central, pelo que se via por quem trafegava na rodovia federal BR-304, onde poças esguichavam água do asfalto na passagem dos veículos, com caminhões, carretas e automóveis que se destinavam a todas as regiões do Estado.
A possibilidade do inverno pegar depois do dia de São José, como esperam os agricultores, também pode trazer alento às famílias que dependem do carro pipa para serem abastecidas de água potável.
“Quando começa a chover os pipeiros ficam tristes”, chegou a brincar o motorista de caminhão pipa Tiago Soares Ribeiro, que era um dos três que abasteciam a pipa de água da adutora Monsenhor Expedido para abastecer a zona rural do município de Pedra Preta, vizinho a Lajes. “A gente carrega em média quatro caminhões por dia”, diz ele, a respeito dos 10 mil litros de água que conduz a cada carrada.
Manoel Raimundo da Silva afirma que abastece pelo menos 30 comunidades rurais de Lajes, a 123 quilômetros de Natal. Tudo muito bem fiscalizado pelo Exército Brasileiro, que gerencia o programa do Ministério da Integração Nacional e que no Rio Grande do Norte é responsabilidade do 17º Grupamento de Artilharia e Combate (GAC), sediado em Santos Reis, bairro da Zona Leste de Natal. “Se tiver um furo e vazamento no tanque, mandam a gente parar e consertar”, disse ele.
fonte:TN
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