O presidente Jair Bolsonaro (PL) ampliou sua artilharia contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Mesmo sem citar diretamente a Corte, Bolsonaro disse nesta quinta-feira (31), que não se pode "aceitar o que vem acontecendo passivamente". "Temos inimigos, sim. São poucos, de todos nós no Brasil, e habitam essa região dos Três Poderes", declarou o presidente em cerimônia no Palácio do Planalto. Em seguida, retomou sua campanha pelo voto impresso ao pedir "transparência" nas urnas eletrônicas.O ataque ao STF ficou ainda mais claro quando Bolsonaro defendeu o deputado Daniel Silveira, que sofre medidas restritivas da Justiça por ataque à democracia. "É muito fácil falar Daniel Silveira, cuida da tua vida. Não vou falar isso", declarou. "Ele pode ser preso a qualquer momento, não é comigo, deixa para lá.. Vai chegar em você", seguiu, como se estivesse utilizando um exemplo aleatório. "Pode ter seus bens confiscados?", acrescentou, em nova referência indireta.
sexta-feira, 1 de abril de 2022
'Bota tua toga e fica sem encher o saco', diz Bolsonaro em ataque ao STF
De
acordo com Bolsonaro, o Brasil não vai para frente porque alguns
atrapalham. "O que falta? Que alguns poucos não nos atrapalhem. Se não
tem ideias, cale a boca! Bota a tua toga e fica aí sem encher o saco dos
outros! Como atrapalham o Brasil", disse. "Democracia e liberdade são
batalha diária."
O presidente ainda disse que
tem a obrigação de exigir transparência no voto. "Agora proibiram
duvidar de urna eletrônica", afirmou. Ele prometeu agir, embora sem
explicar como. "Não pode ter conselheiros ao teu lado dizendo o tempo
todo: calma, calma, espera o momento oportuno. Calma é o cacete, pô".
As
declarações dadas durante a solenidade de anúncio da saída de dez dos
22 ministros que disputarão as eleições deste ano, e Bolsonaro
aproveitou também para fazer uma ode aos governos da ditadura militar.
Ele disse que “nada” ocorreu em 31 de março de 1964, dia do golpe
militar que derrubou o então presidente João Goulart e deu início ao
regime de exceção. O golpe completa 58 anos nesta quinta-feira.
“31
de março. O que aconteceu nesse dia? Nada. Nenhum presidente da
República perdeu o mandato nesse dia”, disse Bolsonaro. “Congresso, com
quase 100% dos presentes, elegeu Castello Branco presidente à luz da
Constituição.”
De fato, Goulart não perdeu o
mandato no dia 31 de março de 1964, primeiro dia do golpe, mas na
sequência, na madrugada de 2 de abril daquele ano, quando, mesmo estando
ele em território nacional, o Congresso declarou vago a Presidência da
República, contrariando a Constituição em vigor, promulgada em 1946.
Bolsonaro
elogiou obras do período militar e ainda fez comparações entre a
ditadura e o seu governo. “O que seria da Amazônia sem Castello Branco,
que criou a Zona Franca de Manaus? Todos aqui tinham direito, deputado
Silveira, de ir e vir”, afirmou o chefe do Executivo ao deputado Daniel
Silveira (União Brasil-RJ), que está sob medidas restritivas por atentar
contra a democracia. “A composição dos ministérios (na ditadura) era
parecida com os meus [ministérios]”, acrescentou.
A Zona
Franca de Manaus foi criada pela Lei número 3.173, no governo Juscelino
Kubistchek, em 1957, e sua instalação foi efetivada dez anos depois, com
o Decreto-lei 288, no governo do general Castello Branco.
O
chefe do Exeutivo ainda reforçou, na contramão da ciência, sua
resistência à vacinação e fez nova apologia de ivermectina e cloroquina,
remédios comprovadamente ineficazes contra a covid-19. Bolsonaro diz
que quer ter direito de andar no meio do povo, e sem máscara. “Tem gente
que quer que eu morra e fica me enchendo o saco para tomar vacina, me
deixa morrer”, afirmou, desprezando a função coletiva da imunização.
PSOL aciona MPF contra Presidente
São
Paulo (AE) - Deputados que integram a bancada do PSOL na Câmara
protocolaram na manhã desta quinta-feira (31), no Ministério Público
Federal, uma representação pedindo a investigação do presidente Jair
Bolsonaro e do ministro da Defesa Braga Netto por suposta 'incitação ao
crime' e 'apologia de crime ou criminoso' em razão da nova exaltação do
golpe de 31 de março de 1964, que marcou o início da ditadura militar -
período sombrio marcado por torturas, assassinatos e censura.
O
documento também atribui a Bolsonaro e a Braga Netto crimes de
responsabilidade e atos de improbidade administrativa, solicitando que o
Ministério Público Federal 'tome todas as providências cabíveis' para a
imediata retirada de todas as ordens do dia que o governo editou para
fazer 'apologia' ao golpe. Além disso, os deputados pedem a
responsabilização do presidente e do ministro da Defesa por dano moral
coletivo, com indenização a ser revertida a organizações de direitos
humanos em defesa da Memória, Verdade e Justiça.
"Ao
pretender sua volta (da ditadura), os Representados (Bolsonaro e Braga
Netto) incitam a prática dos mesmos crimes antes cometidos como a
tortura, o abuso de poder, as lesões corporais, os homicídios e
numerosos outros tipos penais todos atentando contra a sociedade, a
democracia, as organizações, a liberdade e a vida das pessoas",
sustentam os parlamentares.
Os deputados
ressaltam que a ordem do dia assinada por Braga Netto contraria 'a
Constituição, os fatos históricos e os compromissos internacionais
assumidos pelo Brasil, em especial aqueles relacionados ao exercício dos
direitos políticos e respeito à democracia'. A representação diz que o
presidente e o ministro da Defesa são responsáveis por 'comportamentos
reiterados e permanentes de afronta' à carta magna.
"O que se
observa, portanto, é que o Estado brasileiro, conduzido por Jair
Bolsonaro, além de ignorar as determinações da Constituição Federal e da
Corte Interamericana de Direito Humanos, atua em sentido diametralmente
oposto: faz apologia à ditadura militar em plena página oficial do
governo", sustentam os parlamentares.
Após ser
citada na ordem do dia assinada pelo ministro da Justiça, a Ordem dos
Advogados do Brasil também se manifestou sobre o aniversário do golpe
militar, reafirmando seu 'compromisso com o Estado de Direito e com a
defesa do sistema eleitoral vigente, que tem assegurado a continuidade
da democracia no país'.
Em nota, o presidente da entidade,
Beto Simonetti, sustentou que a ordem contestou o Ato Institucional
Número 5 (AI-5) - o mais duro da ditadura - e as prisões politicas.
Segundo o advogado, a OAB 'protagonizou a luta pela democracia'.
Na
ordem do dia que exalta a ditadura, Braga Netto alega que o golpe teria
sido apoiado por famílias, igrejas, empresários, políticos, a imprensa,
a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), as Forças Armadas e a "sociedade
em geral".
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